Oi João e Marcelo,

O texto de Tassos é muito razo, João Marcos. Ele faz um trocadilho 
semântico bobo e usa a palavra "fé" com conotação de "fé teísta" onde 
deveria usar simplesmente a palavra "crença", no sentido da epistemologia, 
como algo que tomamos por verdade (ou aceitamos) mesmo sem ter uma boa 
justificativa ou prova.

Pelo argumento dele, nossa crença na existência de um mundo exterior e na 
relativa confiabilidade de nossa memória também seriam provas de fé na 
existência de deus.

Isso é muito diferente da minha pergunta sobre os ovos de pato. O caso é 
mesmo verídico, fiz a pergunta a colegas, mas eu espero que tenha ficado 
claro que ela é apenas um exemplo engraçadinho (ou didático) para mostrar 
que a ciência, sozinha, não consegue responder sobre a moralidade do 
aborto. E aborto, entre outras coisas, é uma questão de saúde pública.

Pois é, Marcelo,

"Quando um convívio de ideias deixa de ser pluralista e passa a ser 
manipulado por detentores de uma ideia até então marginalizada[...]? Quando 
o convívio de ideias passa a ser imposição de uma única visão?"

Bem, eu acho que isso ocorre quando o grupo defensor dessa ideia passa a 
ter PODER para fazer esta manipulação e imposição. E agora, pensando nessa 
na minha resposta, acho que entendi a sua legítima preocupação. Tempos 
difíceis estes que vivemos.

Saudações,
Daniel.

Em sexta-feira, 10 de dezembro de 2021 às 12:02:25 UTC-3, Marcelo Finger 
escreveu:

> Oi Daniel.
>
> Gostei do seu argumento, e emendo uma pergunta.
>
> Quando um convívio de ideias deixa de ser pluralista e passa a ser 
> manipulado por detentores de uma ideia até então marginalizada em busca de 
> reconhecimento? Mais ao caso: Quando o convívio de ideias passa a ser 
> imposição de uma única visão?
>
> []s
>
>
> Em sex., 10 de dez. de 2021 às 11:42, Daniel Durante <dura...@gmail.com> 
> escreveu:
>
>> Colegas,
>>
>> Realmente, Eduardo, lendo a descrição do curso que você enviou, e o texto 
>> do link que consegui abrir, devo reconhecer que este curso não parece fazer 
>> o que o título da disciplina (medicina, saúde e espiritualidade) e sua 
>> ementa sugerem.  Não parece haver qualquer pluralismo ali. Perdi a vontade 
>> de cursar 🙂 e entendo a reação que tem causado. Mas resta a pergunta: a 
>> disciplina optativa e a ação de extensão a ela vinculada são ou não 
>> aceitáveis em uma universidade pública?
>>
>> Essa pergunta me leva ao texto do Cassiano. De fato, Cassiano, a 
>> constelação familiar é bem esquisita e eu não tenho qualquer simpatia por 
>> esta prática. Sou muito mais simpático aos passes e as benzedeiras de 
>> bairro. Mas eu não sei se o machismo do alemão do século XX que a inventou 
>> é muito diferente do machismo do austríaco do século XIX que inventou a 
>> psicanálise. Aliás, existe alguma psicoterapia cognitiva que não seria 
>> classificada de pseudociência? Então vamos substituí-las todas por drogas? 
>> Vamos "medicalizar" a psiquiatria e acabar com terapias cognitivas? Afinal, 
>> as drogas podem ser testadas em arranjo experimental duplo-cego e não são 
>> pseudociência.
>>
>> Não vejo essa tendência (que é vigente) como avanço, mas como retrocesso. 
>> Nem todos os nossos problemas cabem nos parâmetros da metodologia 
>> científica materialista. Aliás, muito poucos cabem. O próprio caso das 
>> vacinas da Covid é um bom exemplo. Desenvolver e produzir vacinas 
>> absurdamente eficientes foi essencial, mas não resolve o problema. É 
>> preciso aplicar as vacinas. É preciso vencer o negacionismo de parte da 
>> população de países ricos, é preciso vencer a desigualdade global e fazer a 
>> vacina chegar em países pobres. Sem um certo "ecletismo científico", e aqui 
>> eu respondo (um pouco) ao João Marcos, que eu chamaria de "abordagem 
>> interdisciplinar", a gente não resolve nada.
>>
>> Um dia desses, eu perguntei para alguns colegas cientistas do Centro de 
>> Biociências aqui da UFRN se o bicho dentro de um ovo de pato, antes de 
>> nascer, é um pato ou não é um pato. Eles desconversaram, deram nomes 
>> técnicos para este "bicho", mas evitavam responder se a coisa com nomes 
>> técnicos era ou não um pato. Pressionados, alguns responderam sim e outros 
>> responderam não. Meu ponto aqui é que não há metodologia científica 
>> naturalista que leve a uma resposta incontroversa sobre se e quando o bicho 
>> dentro de um ovo de pato, antes de nascer, é um pato ou não é um pato. E 
>> isso não é um problema ou falha da ciência atual. É um limite. Se isso 
>> acontece com esta minha pergunta, que é infantilmente simples, imagina 
>> então quando a gente pensa sobre todas as questões muito mais complexas 
>> ligadas à saúde. Seria muita ingenuidade achar que todas elas têm respostas 
>> alcançáveis via metodologia científica naturalista. Não têm.
>>
>> O problema é que sempre vão haver respostas divergentes e desacordos para 
>> estas questões cruciais que escapam à objetividade empiricamente mensurável 
>> da ciência. Vendo melhor a tal disciplina da UFRN, percebo que discordo da 
>> abordagem e da proposta. Mas tenho dificuldade de me posicionar contrário à 
>> aceitabilidade de tal disciplina e da ação de extensão. Na verdade, não sei.
>>
>> Saudações,
>> Daniel.
>>
>> Em quarta-feira, 8 de dezembro de 2021 às 00:14:15 UTC-3, eduardoochs 
>> escreveu:
>>
>>> Meio off-topic, mas lá vai. 
>>> Pessoas da UFRN, como está sendo a repercussão disso na universidade 
>>> de vocês? 
>>>
>>>
>>> https://oglobo.globo.com/brasil/educacao/construcao-do-reino-de-deus-novo-curso-da-ufrn-choca-estudantes-de-medicina-25309373
>>>  
>>> https://archive.md/TeS69 
>>>
>>> [[]], 
>>> E. 
>>>
>> -- 
>>
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>> Grupos do Google.
>> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, 
>> envie um e-mail para logica-l+u...@dimap.ufrn.br.
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>> .
>>
>
>
> -- 
> Marcelo Finger
>  Departament of Computer Science, IME-USP   
>  http://www.ime.usp.br/~mfinger
>  ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1391-1175
>  ResearcherID: A-4670-2009
>
> Instituto de Matemática e Estatística, 
>
> Universidade de São Paulo
>
> Rua do Matão, 1010 - CEP 05508-090 - São Paulo, SP
>

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