Por que não acreditar na prova de consistência de Goedel para PA? Ou na de
Kunen, baseada num algoritmo?

2011/9/30 Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>

> Rodrigo,
> Muito obrigada pela informacao detalhada abaixo! Aprendi muito, mas
> continuo com uma duvidas basica.
>
> Nao, eu nao quero fazer "aritmetica limitada" e  nao quero perder
> consistencia.
>
> Mas quero saber se voce (e todo mundo que a gente acredita) tambem
> acha que PRA realmente 'e garantidamente consistente.
>
> obrigada,
> valeria
>
> 2011/9/29 Rodrigo Freire <freires...@gmail.com>:
> > Minha dúvida sobre o trabalho do Nelson é de outra natureza: mesmo que
> > todas as expectativas se confirmem e realmente a coisa esteja furada,
> > o que ainda poderá ser dito da *alternativa finitista* que ele propõe
> > para "consertar PRA"?  Será um sistema metamatemático cujo interesse
> > poderá subsistir de modo independente a todo o resto?
> >
> >
> >
> > Parte do trabalho do Nelson já está incorporada na lógica. Ele é um dos
> > precursores da aritmética limitada.
> > O livro predicative arithmetic, de 1986, está disponível online na página
> > dele. Contém os primeiros passos do projeto dele.
> >
> > De especial interesse para lógicos é a aritmetização dos teoremas da
> lógica
> > básica em sistemas interpretaveis em Q.
> > Ele segue o Shoenfield, cap. 1 a 4. Ele consegue provar uma boa parte dos
> > resultados, mas não consegue alguns resultados centrais.
> > Nessa parte, acho que o melhor que ele conseguiu foi demonstrar o teorema
> de
> > extensões funcionais (com unicidade) em um sistema compatível com Q e sem
> > ter que fazer a prova enfadonha que tem no Kleene (que aliás é um livro é
> > pouco humano). A prova desse teorema no Shoenfield não cabe em sistemas
> > aceitáveis para o Nelson.
> >
> > Os resultados centrais que ele não consegue: Hilbert-Ackerman, Herbrand,
> > Skolem (sobre extensões funcionais em geral) e tudo o mais relacionado a
> > esses. Por que não dá para obter esses resultados? Hilbert-Ackerman e
> > Herbrand provam a consistência de Q. O teorema de Skolem, eu não sei.
> Quem
> > trabalha com aritmética limitada deve saber. O segundo teorema da
> > incompletude também é modificado.
> >
> > Como Hilbert-Ackerman tem um papel central para o Nelson, ele consegue
> > versões restritas do teorema (também dá para conseguir versões restritas
> de
> > eliminação do corte e outros). Essa história de limitar rank e level das
> > constantes especiais nas provas é para isso: a teoria que ele chama de Q*
> só
> > prova a consistência das "subteorias" tais que as provas são por
> > consequência tautológica de axiomas com rank e level limitados.
> >
> > Com isso ele consegue um mínimo de teoria de sistemas formais para, pelo
> > menos, dar sentido para "formalização". Não é grande coisa. Considero que
> > perder Herbrand é muito sério: a pureza de métodos está indo embora. Mas
> > acho que é possível aceitar que trabalhando nessa aritmética limitada
> como
> > metateoria dos sistemas formais (no lugar de PRA)  faz sentido falar em
> > "formalização".
> >
> > A partir daí você pode ter dois pontos de vista:
> >
> > 1) Essencialmente o ponto de vista de Hilbert trocando PRA por Q, Q* e
> > outras teorias dessa aritmética do Nelson. Nesse caso, você formaliza a
> > matemática em ZFC e trabalha normalmente, sempre lembrando que a
> metateoria
> > é essa aritmética limitada. Isso vai gerar algumas preocupações só para
> quem
> > trabalha em fundamentos. É preciso ver se forcing por exemplo é finitário
> > nesse sentido. O resto da matemática fica igual. Não é possível dar
> provas
> > de consistência, mas tudo bem, você continua praticamente como estamos
> hoje.
> >
> > 2) O ponto de vista atual do Nelson: PRA é inconsistente. Aí eu acho que
> não
> > dá para fazer nada. Nem entendo o que significam essas afirmações dele. É
> > praticamente uma contradição referencial ele dizer que exibe dois números
> n
> > e m tal que a tetração n tetra m não existe. É aquela pergunta: o que faz
> o
> > algoritmo que calcula essa superexponencial em termos das anteriores
> nesse
> > caso?
> >
> >
> > O erro desse trabalho do Nelson, que acredito já foi encontrado, está
> onde
> > teria que estar. O erro está no plano básico do argumento, não em
> detalhes
> > excruciantes de aritmetização (alguns desses detalhes podem ser
> encontrados
> > já nesse livro de 1986). A aritmetização do teorema de Chaitin não
> fornece o
> > que ele gostaria que fosse o caso. Se o erro estivesse em detalhes da
> > aritmetização, o argumento dele seria usado para provar que ZFC prova que
> PA
> > é inconsistente, já que em ZFC não há problemas de falta de recurso para
> > codificação. Ou seja, se o plano dele estivesse correto, mas os detalhes
> > não, ele conseguiria pelo menos uma prova da inconsistencia de ZF, o que
> já
> > seria suficientemente interessante. E ele está gastanto centenas de
> páginas
> > de aritmetização e está apenas no começo...
> >
> >
> > Abraço
> > Rodrigo
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
>
>
>
> --
> Valeria de Paiva
> http://www.cs.bham.ac.uk/~vdp/
> http://valeriadepaiva.org/www/
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