Rodrigo,
Muito obrigada pela informacao detalhada abaixo! Aprendi muito, mas
continuo com uma duvidas basica.

Nao, eu nao quero fazer "aritmetica limitada" e  nao quero perder consistencia.

Mas quero saber se voce (e todo mundo que a gente acredita) tambem
acha que PRA realmente 'e garantidamente consistente.

obrigada,
valeria

2011/9/29 Rodrigo Freire <freires...@gmail.com>:
> Minha dúvida sobre o trabalho do Nelson é de outra natureza: mesmo que
> todas as expectativas se confirmem e realmente a coisa esteja furada,
> o que ainda poderá ser dito da *alternativa finitista* que ele propõe
> para "consertar PRA"?  Será um sistema metamatemático cujo interesse
> poderá subsistir de modo independente a todo o resto?
>
>
>
> Parte do trabalho do Nelson já está incorporada na lógica. Ele é um dos
> precursores da aritmética limitada.
> O livro predicative arithmetic, de 1986, está disponível online na página
> dele. Contém os primeiros passos do projeto dele.
>
> De especial interesse para lógicos é a aritmetização dos teoremas da lógica
> básica em sistemas interpretaveis em Q.
> Ele segue o Shoenfield, cap. 1 a 4. Ele consegue provar uma boa parte dos
> resultados, mas não consegue alguns resultados centrais.
> Nessa parte, acho que o melhor que ele conseguiu foi demonstrar o teorema de
> extensões funcionais (com unicidade) em um sistema compatível com Q e sem
> ter que fazer a prova enfadonha que tem no Kleene (que aliás é um livro é
> pouco humano). A prova desse teorema no Shoenfield não cabe em sistemas
> aceitáveis para o Nelson.
>
> Os resultados centrais que ele não consegue: Hilbert-Ackerman, Herbrand,
> Skolem (sobre extensões funcionais em geral) e tudo o mais relacionado a
> esses. Por que não dá para obter esses resultados? Hilbert-Ackerman e
> Herbrand provam a consistência de Q. O teorema de Skolem, eu não sei. Quem
> trabalha com aritmética limitada deve saber. O segundo teorema da
> incompletude também é modificado.
>
> Como Hilbert-Ackerman tem um papel central para o Nelson, ele consegue
> versões restritas do teorema (também dá para conseguir versões restritas de
> eliminação do corte e outros). Essa história de limitar rank e level das
> constantes especiais nas provas é para isso: a teoria que ele chama de Q* só
> prova a consistência das "subteorias" tais que as provas são por
> consequência tautológica de axiomas com rank e level limitados.
>
> Com isso ele consegue um mínimo de teoria de sistemas formais para, pelo
> menos, dar sentido para "formalização". Não é grande coisa. Considero que
> perder Herbrand é muito sério: a pureza de métodos está indo embora. Mas
> acho que é possível aceitar que trabalhando nessa aritmética limitada como
> metateoria dos sistemas formais (no lugar de PRA)  faz sentido falar em
> "formalização".
>
> A partir daí você pode ter dois pontos de vista:
>
> 1) Essencialmente o ponto de vista de Hilbert trocando PRA por Q, Q* e
> outras teorias dessa aritmética do Nelson. Nesse caso, você formaliza a
> matemática em ZFC e trabalha normalmente, sempre lembrando que a metateoria
> é essa aritmética limitada. Isso vai gerar algumas preocupações só para quem
> trabalha em fundamentos. É preciso ver se forcing por exemplo é finitário
> nesse sentido. O resto da matemática fica igual. Não é possível dar provas
> de consistência, mas tudo bem, você continua praticamente como estamos hoje.
>
> 2) O ponto de vista atual do Nelson: PRA é inconsistente. Aí eu acho que não
> dá para fazer nada. Nem entendo o que significam essas afirmações dele. É
> praticamente uma contradição referencial ele dizer que exibe dois números n
> e m tal que a tetração n tetra m não existe. É aquela pergunta: o que faz o
> algoritmo que calcula essa superexponencial em termos das anteriores nesse
> caso?
>
>
> O erro desse trabalho do Nelson, que acredito já foi encontrado, está onde
> teria que estar. O erro está no plano básico do argumento, não em detalhes
> excruciantes de aritmetização (alguns desses detalhes podem ser encontrados
> já nesse livro de 1986). A aritmetização do teorema de Chaitin não fornece o
> que ele gostaria que fosse o caso. Se o erro estivesse em detalhes da
> aritmetização, o argumento dele seria usado para provar que ZFC prova que PA
> é inconsistente, já que em ZFC não há problemas de falta de recurso para
> codificação. Ou seja, se o plano dele estivesse correto, mas os detalhes
> não, ele conseguiria pelo menos uma prova da inconsistencia de ZF, o que já
> seria suficientemente interessante. E ele está gastanto centenas de páginas
> de aritmetização e está apenas no começo...
>
>
> Abraço
> Rodrigo
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>



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Valeria de Paiva
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