Muito interessante, Bruno!  Por favor compartilhe quando tiver avançado
sobre o estudo da fenomenologia do raciocínio.

Curiosidade: o que vocês acham de conjecturas como estas?
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgll3m2m0r7o
(parte desta pesquisa se deu na Unicamp, e o Chomsky também deu sua opinião
sobre o assunto)

[]s, João Marcos

On Mon, Jun 24, 2024, 13:42 bruno.ramos.mendonca <
bruno.ramos.mendo...@gmail.com> wrote:

> Ola caros,
>
> Tenho dificuldade com essas teses generalizantes: "o raciocínio não exige
> linguagem". Do que estamos falando, exatamente? Raciocínio é um termo
> guarda-chuva que abarca muitas atividades distintas entre si. Para ficar
> num tema que me interessa particularmente: eu tenho alguma conviccao de que
> a prática matemática envolve aspectos dialógicos. Uma demonstracao
> matemática é algo que apresentamos a outros a fim de convence-los da
> validade de uma conjectura. Nesse sentido, tenho dificuldade em entender
> como poderíamos filtrar a prática matemática dos aspectos "comunicativos"
> da linguagem.
>
> Além disso, acho que cabe dizer que, no que se refere ao raciocínio lógico
> dedutivo, um resultado como o enunciado no artigo apresenta grandes
> dificuldades a nossas caracterizacoes tradicionais dos conceitos lógicos
> fundamentais.  Nós tradicionalmente dizemos que a lógica apresenta relações
> de dependência formal (aletica ou inferencial) entre proposições; que, em
> um argumento válido,  a verdade das premissas torna a verdade da conclusão
> necessariamente verdadeira etc. Todos esses modos tipicos pelos quais
> definimos a logica dependem fortemente de uma reducao do raciocínio lógico
> a algo que fazemos com palavras. Felizmente, os estudos em cognição animal
> nos oferecem alternativas teóricas. Contudo, notem que a questao não é
> facil e toca no amago da filosofia da logica.
>
> Por fim, eu ainda teria alguma coisa a dizer sobre esse rechaço muito
> rápido à ideia de que a nossa pratica de raciocinio solitária requer "fala
> interna". Sim, há novas evidências indicando que uma parcela significativa
> da populacao reporta não ter fala interna, mas os resultados ainda são
> muito incipientes. Eles não podem ser tomados como fato cientifico. Para
> decidir essa questão,  precisamos de mais fenomenologia do raciocinio, uma
> área de estudo ainda pouco explorada na literatura. Na esteira de trabalhos
> que temos feito na UFFS e na UFSM (em parceria com o Frank, a Nara entre
> outros pesquisadores), tenho começado a desenvolver um trabalho sobre esse
> assunto. Pretendo apresentar alguns resultados  preliminares dele no
> próximo SBFA.
>
> Abraços
> Bruno Ramos Mendonça
> Universidade  Federal  da Fronteira Sul
>
> Em segunda-feira, 24 de junho de 2024 às 11:54:45 UTC-3, Joao Marcos
> escreveu:
>
>> É de se supor, ainda, que o conceito de linguagem está sendo usado na
>> acepção restrita de conjunto de símbolos gerados por uma gramática
>> (recursiva)?
>>
>> JM
>>
>>
>> On Mon, Jun 24, 2024 at 10:30 AM Marcelo Finger <mfi...@ime.usp.br>
>> wrote:
>>
>>> Não acho que insistir na ideia de linguagem como pré-requisito para o
>>> raciocínio é fanatismo.  Como o artigo menciona, essa teoria não começou
>>> com Chomsky, e já existia de forma seminal em Aristóteles.
>>>
>>> Mesmo que linguagem e raciocínio sejam separados, com algum circuitos
>>> cerebrais exclusivos para cada uma destas atividades, existe a questão das
>>> _abstrações_, das quais aparentemente o cérebro se utiliza tanto para
>>> interpretar a realidade como para comunicá-la.
>>>
>>> Ou seja, é bem possível, e até provável, que os circuitos de raciocínio
>>> e linguagem sejam vasos comunicantes.  E a forma como essa comunicação se
>>> dá pode estar na formação dos conceitos abstratos na mente.
>>>
>>> []s
>>>
>>>
>>> Em dom., 23 de jun. de 2024 às 16:17, Joao Marcos <boto...@gmail.com>
>>> escreveu:
>>>
>>>> O fanatismo é sempre um problema.
>>>>
>>>> Imaginar que a teoria da Gramática Universal, que sugere que a
>>>> habilidade de aquisição de linguagem é inata ao ser humano, implique
>>>> que "precisamos de linguagem para pensar" parece um bom exemplo de
>>>> erro lógico.  E concluir a partir de
>>>> "Se houver um déficit grave de linguagem, haverá um déficit grave de
>>>> pensamento",
>>>> que é impossível que um
>>>> "texto gramatical muito fluente"
>>>> possa existir sem que
>>>> "um pensamento subjacente coerente"
>>>> esteja na sua base parece um erro lógico pior ainda.
>>>> Além disso, hoje provavelmente temos contra-exemplos empíricos claros
>>>> para tudo isto.
>>>>
>>>> Posso estar me lembrando mal, mas recordo-me claramente de Chomsky
>>>> apontar muitas vezes para o fato de que criaturas não-linguísticas
>>>> (como alguns animais) podem apresentar habilidades de resolução de
>>>> problemas e outras formas de raciocínio complexo, e também me recordo
>>>> de o próprio Chomsky ter chamado repetidamente a atenção para o fato
>>>> de que os seres humanos possuem diversas formas de raciocínio
>>>> não-verbal, por exemplo, com base visual ou abstrata.  Então pode
>>>> haver um _pouquinho_ de sensacionalismo nestes anúncios feitos pelos
>>>> neurocientistas, né?  Valerá a pena, de todo modo, conferir o artigo
>>>> desse pessoal, para avaliar qual seria seu real alcance, e avaliar se
>>>> os jornalistas não se perderam pelo caminho da "construção da
>>>> notícia":
>>>> https://www.nature.com/articles/s41586-024-07522-w
>>>>
>>>> Haverá certamente gente muito melhor preparada do que eu nesta lista
>>>> para debater a hipótese chomskyana, com suposta base biológica, de que
>>>> a linguagem enriquece e expande as nossas habilidades cognitivas.  Mas
>>>> é possível, também, que não haja muita gente aqui que duvide disso...
>>>>
>>>> Não sou historiador, e talvez por isso desconheça a existência de
>>>> teóricos anteriores a Chomsky que tenham defendido de forma mais
>>>> explícita e clara, no campo da Linguística, a natureza *recursiva* da
>>>> linguagem humana.  Saussure claramente não foi capaz de enxergar isso.
>>>> Isto, sim, foi uma verdadeira revolução, agitando as águas de uma
>>>> forma tão violenta que ainda hoje sentimos as marolas.  Aqui na
>>>> Lógica, tendo em vista o trabalho igualmente monumental de Gödel e
>>>> Turing sobre a formalização da recursão, podemos fornecer
>>>> infra-estrutura teórica para tirar proveito deste movimento.  E daí
>>>> nasceram contribuições importantes na fronteira entre Lógica e
>>>> Linguística, como a de Richard Montague (continuado por linguistas
>>>> como Barbara Partee, Irene Heim,  Angelika Kratzer).  Tendo tudo isso
>>>> em vista, eu diria: viva Chomsky! ;-b
>>>>
>>>> Tendo me debruçado recentemente sobre textos escritos por linguistas
>>>> que trabalham na área de Semântica Formal, confesso que minha maior
>>>> preocupação tem sido a aparente débil formação lógica, que os leva com
>>>> alguma frequência a escrever algumas barbaridades...
>>>>
>>>> []s, Joao Marcos
>>>>
>>>> On Sun, Jun 23, 2024 at 2:30 PM Carlos Augusto Prolo
>>>> <pr...@dimap.ufrn.br> wrote:
>>>> >
>>>> >
>>>> >
>>>> > Em dom., 23 de jun. de 2024 14:14, Joao Marcos <boto...@gmail.com>
>>>> escreveu:
>>>> >>
>>>> >> O que todo matemático sempre soube, rsrsss...
>>>> >
>>>> >
>>>> > Alternativamente, o que só os  seguidores fanáticos de Chomsky
>>>> rejeitavam [e possivelmente ainda continuem negando]. E são muitos ...
>>>> >
>>>> > Prolo
>>>> >>
>>>> >>
>>>> >> JM
>>>> >>
>>>> >> On Sun, Jun 23, 2024, 14:12 Carlos Augusto Prolo <
>>>> pr...@dimap.ufrn.br> wrote:
>>>> >>>
>>>> >>> Boa tarde.
>>>> >>>
>>>> >>>
>>>> https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2024/06/nao-precisamos-de-linguagem-para-pensar-sugerem-neurocientistas.shtml
>>>> >>>
>>>> >>> Abraco.
>>>> >>> Prolo
>>>> >>>
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>>> Marcelo Finger
>>>  Departament of Computer Science, IME-USP
>>>  http://www.ime.usp.br/~mfinger
>>>  ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1391-1175
>>>  ResearcherID: A-4670-2009
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