Oi Valéria

Até onde posso compreender, o Nelson acredita que PRA é inconsistente por
acreditar que algumas funções primitivas recursivas não são totais. Não
consigo entender o que isso significa.

Mais especificamente: Nelson acredita que superexponenciação não é total.

Considere a seguinte sequencia de funções primitivas recursivas: constante
igua a 0, sucessor,  soma, produto, exponenciação com base 2,
superexponenciação com base 2. Nelson acredita que uma dessas não é total e
não é 0 nem sucessor. Considere a primeira. Chamemos ela de f. Considere o
primeiro argumento n em que f não "dá resultado". O que acontece com o
algoritmo que calcula f(n) em termos das funções primitivas recursivas
anteriores (que são totais) e de f para argumentos menores que n (que
existem)?

Você pode mudar o sentido de número e decretar que números acima de algum
valor não existem. A função sucessor não é mais total, etc. Mas isso é
destruir a noção de número.


Também é possível mudar o que significa "consistência". Por exemplo dizendo
que não há provas de complexidade menor ou igual a n de 0=1, para alguma
noção de complexidade e algum n. Aí o problema da consistência pode passar a
fazer sentido para PRA. No sentido usual do termo, o problema da
consistência não se coloca para PRA.
De novo, o que está acontecendo é uma destruição da noção de prova, e da
noção dependente de consistência.  As regras de inferência não são mais
totais? Por que não?


De acordo com a sua pergunta: essas não são as noções de número e de prova
que fazem mais sentido, que colocam restrições artificiais nas noções
clássicas sem nenhuma razão para fazer isso.

Essa citação do Harvey Friedman expressa a situação:

"I raised just this objection with the (extreme) ultrafinitist Esenin-Volpin
during a lecture of his. He asked me to be more specific. I then proceeded
to start with 2^1 and asked him whether this is “real” or something to that
effect. He virtually immediately said yes. Then I asked about 2^2, and he
again said yes, but with a perceptible delay. Then 2^3, and yes, but with
more delay. This continued for a couple of more times, till it was obvious
how he was handling this objection. Sure, he was prepared to always answer
yes, but he was going to take 2^100 times as long to answer yes to 2^100
then he would to answering 2^1. There is no way that I could get very far
with this."



Abraço
Rodrigo


2011/9/30 Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>

> oi Rodrigo,
>
> Obrigada pela mensagem abaixo, eu tb estou na mesma situacao de:
> >não entendo nada disso e esses palpites apenas expressam uma
> > sensação, não tem bases muito sólidas.
> "gut feelings", sem argumentos solidos, aqui tambem...
>
> eu tentei uma vez ensinar complexidade pra computacao sem usar logica
> classica, usando programas funcionais e raciocinio constructivo, mas
> nao consegui fazer nem a primeira aula direito. Alguem devia
> faze-lo...
>
> Mas a minha visao 'e diferente quanto a:
> >O Shoenfield adaptou a interpretação dialética para aplicá-la direto a PA
> > sem passar por HA. Então não sei se essa preocupação com a tradução de
> Godel
> > é realmente significativa.
> voce leu a minha preocupacao com HA da maneira inversa do que a que eu
> pretendia. eu gosto de passar por HA, o que eu gostaria na verdade e'
> de fazer logica classica mais parecida com logica intuicionista, de
> providenciar Curry-Howard pra logica classica de uma maneira
> canonica...dai o que eu quero 'e extrair das preocupacoes do Nelson,
> as que eu compartilho...
>
> eu tambem acredito que PRA 'e consistente, por isso gostaria de
> entender melhor porque o Nelson acha que nao 'e, pois nao concordo
> contigo quando voce diz que ``dizer que PRA é inconsistente é sem
> sentido". Pode ser que nao faca sentido da forma como as definicoes
> estao organizadas, mas a regra do jogo 'e descobrir quais sao as
> definicoes que fazem mais sentido pra gente, nao? qual 'e a definicao
> de numero natural, de principio de inducao que faz mais sentido e
> prova mais teoremas, sem introduzir conceitos duvidosos que nem o
> "terceiro excluido"--essas sao as perguntas que queremos responder,
> nao?
>
> obrigada pelas explicacoes,
> Valeria
>
>
>
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