Ok Valeria, bom trabalho.

Vou encerrar com três brevíssimas observações:

-Não duvido que para alguma noção razoável de complexidade a função sucessor
é menos complexa que a exponenciação. Pode ser uma noção de recursos para a
normalização forte de lambda termos ou outra coisa. Isso não é motivo para
acreditar na inconsistência de PRA, pelo contrário.

-O que não me parece fazer sentido é a inferência: "complexo implica não
existe". Parece insistência minha, mas Nelson não afirma só que a tetração é
mais complexa que o sucessor. Ele afirma que não existe "m tetra n", para
argumentos n e m exibidos.

-O que eu duvido portanto é que  uma noção razoável de existência de números
seja baseada em uma noção de complexidade, como Nelson acredita. Em última
análise, por tudo que já escrevi, não me parece inteligível a inferência
"complexo implica não existe".

Abraço
Rodrigo








2011/9/30 Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>

> Rodrigo,
> Deixa eu tentar explicar o que eu acho que o Nelson *pode* estar querendo
> dizer.
>
> >Você pode mudar o sentido de número e decretar que números acima de algum
> > valor não existem. A função sucessor não é mais total, etc. Mas isso é
> > destruir a noção de número.
>
> sim, mas nao 'e isso que queremos. e acho que nao 'e isso que o Nelson
> esta' fazendo. a funcao sucessor 'e total, como a gente normalmente
> considera, pode ser descrita pelo lambda termo (\lambda x. x+1) e 1 'e
> um numero legal e somar com 1 tambem funciona bem.
>
> a gente tambem pode definir adicao e multiplicacao usando lambda
> termos e podemos talvez pensar no tempo/espaco que leva pra normalizar
> o termo correspondente. isto 'e no esforco/trabalho que da' pra
> reduzir \lambda x. ( suc(suc(suc(Zero)))) +  \lambda x.
> ((suc(suc(Zero)))) pra 5.
>
>
> Dai talvez faca algum sentido dizer que superexponenciacao 'e
> diferente da funcao sucessor e que uma sempre termina, mas a outra
> nao. nao sei se 'e isso que ele esta dizendo e em vez de ficar falando
> bobagens eu devia era ler o famoso documento de 100 paginas, mas
> pensando em reducoes de lambda termos eu pelo menos consigo ver que
> pode existir uma nocao de prova bem parecida com a minha, que leva em
> consideracao alguma nocao de complexidade para produzir um resultado
> aritmetico.
>
> dai que pode existir uma nocao nada artificial que coloque restricoes
> nas nocoes classicas e leve o Nelson a dizer que superexponenciacao
> nao termina sempre(ou melhor que nao podemos garantir que a
> superexponenciacao sempre termine). eu nao sei se 'e isso que ele
> esta' dizendo, e achei que alguem saberia me dizer, sem muito esforco.
>
> obrigada pela conversa,
> Valeria
>
> 2011/9/30 Rodrigo Freire <freires...@gmail.com>:
> > Oi Valéria
> >
> > Até onde posso compreender, o Nelson acredita que PRA é inconsistente por
> > acreditar que algumas funções primitivas recursivas não são totais. Não
> > consigo entender o que isso significa.
> >
> > Mais especificamente: Nelson acredita que superexponenciação não é total.
> >
> > Considere a seguinte sequencia de funções primitivas recursivas:
> constante
> > igua a 0, sucessor,  soma, produto, exponenciação com base 2,
> > superexponenciação com base 2. Nelson acredita que uma dessas não é total
> e
> > não é 0 nem sucessor. Considere a primeira. Chamemos ela de f. Considere
> o
> > primeiro argumento n em que f não "dá resultado". O que acontece com o
> > algoritmo que calcula f(n) em termos das funções primitivas recursivas
> > anteriores (que são totais) e de f para argumentos menores que n (que
> > existem)?
> >
> > Você pode mudar o sentido de número e decretar que números acima de algum
> > valor não existem. A função sucessor não é mais total, etc. Mas isso é
> > destruir a noção de número.
> >
> >
> > Também é possível mudar o que significa "consistência". Por exemplo
> dizendo
> > que não há provas de complexidade menor ou igual a n de 0=1, para alguma
> > noção de complexidade e algum n. Aí o problema da consistência pode
> passar a
> > fazer sentido para PRA. No sentido usual do termo, o problema da
> > consistência não se coloca para PRA.
> > De novo, o que está acontecendo é uma destruição da noção de prova, e da
> > noção dependente de consistência.  As regras de inferência não são mais
> > totais? Por que não?
> >
> >
> > De acordo com a sua pergunta: essas não são as noções de número e de
> prova
> > que fazem mais sentido, que colocam restrições artificiais nas noções
> > clássicas sem nenhuma razão para fazer isso.
> >
> > Essa citação do Harvey Friedman expressa a situação:
> >
> > "I raised just this objection with the (extreme) ultrafinitist
> Esenin-Volpin
> > during a lecture of his. He asked me to be more specific. I then
> proceeded
> > to start with 2^1 and asked him whether this is “real” or something to
> that
> > effect. He virtually immediately said yes. Then I asked about 2^2, and he
> > again said yes, but with a perceptible delay. Then 2^3, and yes, but with
> > more delay. This continued for a couple of more times, till it was
> obvious
> > how he was handling this objection. Sure, he was prepared to always
> answer
> > yes, but he was going to take 2^100 times as long to answer yes to 2^100
> > then he would to answering 2^1. There is no way that I could get very far
> > with this."
> >
> >
> >
> > Abraço
> > Rodrigo
> >
> >
> > 2011/9/30 Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>
> >>
> >> oi Rodrigo,
> >>
> >> Obrigada pela mensagem abaixo, eu tb estou na mesma situacao de:
> >> >não entendo nada disso e esses palpites apenas expressam uma
> >> > sensação, não tem bases muito sólidas.
> >> "gut feelings", sem argumentos solidos, aqui tambem...
> >>
> >> eu tentei uma vez ensinar complexidade pra computacao sem usar logica
> >> classica, usando programas funcionais e raciocinio constructivo, mas
> >> nao consegui fazer nem a primeira aula direito. Alguem devia
> >> faze-lo...
> >>
> >> Mas a minha visao 'e diferente quanto a:
> >> >O Shoenfield adaptou a interpretação dialética para aplicá-la direto a
> PA
> >> > sem passar por HA. Então não sei se essa preocupação com a tradução de
> >> > Godel
> >> > é realmente significativa.
> >> voce leu a minha preocupacao com HA da maneira inversa do que a que eu
> >> pretendia. eu gosto de passar por HA, o que eu gostaria na verdade e'
> >> de fazer logica classica mais parecida com logica intuicionista, de
> >> providenciar Curry-Howard pra logica classica de uma maneira
> >> canonica...dai o que eu quero 'e extrair das preocupacoes do Nelson,
> >> as que eu compartilho...
> >>
> >> eu tambem acredito que PRA 'e consistente, por isso gostaria de
> >> entender melhor porque o Nelson acha que nao 'e, pois nao concordo
> >> contigo quando voce diz que ``dizer que PRA é inconsistente é sem
> >> sentido". Pode ser que nao faca sentido da forma como as definicoes
> >> estao organizadas, mas a regra do jogo 'e descobrir quais sao as
> >> definicoes que fazem mais sentido pra gente, nao? qual 'e a definicao
> >> de numero natural, de principio de inducao que faz mais sentido e
> >> prova mais teoremas, sem introduzir conceitos duvidosos que nem o
> >> "terceiro excluido"--essas sao as perguntas que queremos responder,
> >> nao?
> >>
> >> obrigada pelas explicacoes,
> >> Valeria
> >>
> >>
> >
>
>
>
> --
> Valeria de Paiva
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