Walter, Elaine, Wagner e demais redistas:
Meus 3 centavos sobre o caso:

(1) O parecer em tela eh horrivel, deveria ter side descartado (e nunca ter 
sido enviado), e o parecerista nao deveria ser mais convidado para tarefas 
deste tipo.

(2) Eh preciso dar treinamento adequado as pessoas no que tange a normas de 
comportamento social, pois estas sao mutaveis ao longo de tempo, de culturas 
etc.

Exemplo: Em 2001-2002 fui professor visitante na NYU-Binghamton.
Ao chegar la, tive um curso de 3 dias sobre normas (expectativas 
comportamentais, no sentido Luhmanniano) para um professor.

Entre os itens discutidos:
(a) Uma mulher andando sozinha no campus nao anuncia estar "disponivel"; Para 
mim, obvio; para alguns homens vindo do oriente medio, nem tanto!
(b) Eh categoricamente prihibido o relacionamento afetivo entre professores e 
alunos (em qualquer circunstancia). Para os Americanos, obvio; Para alguns 
Sul-Americanos e Europeus, nem tanto...

No meu entender, a Instituicao dever esclarecer e explicitar suas normas de 
comportamento em Codigos de Conduta.
Estes podem e devem mudar ao longo do tempo mas, deve existir uma referencia 
clara e facilmente disponivel para as normas vigentes.
Ademais, deve haver um treinamento basico para professores e funcionarios, 
preferencialmente via discussao do Codigo de Conduta (existente) em exemplos 
concretos de aplicacao.
Este treinamento deve ter a dupla funcao de exclarecer aqueles que se prestam 
aa suas funcoes, e triar os que nao se prestam a determinadas tarefas.

(3) Na minha opiniao, Codigos de Conduta devem exprimir valores (relativamente) 
consensuais, em oposicao a serem instrumentos de ativismo e doutrinacao de 
vanguardas ideologicas (pois vanguardas ha muitas, cada uma seguindo seu 
proprio caminho).

Em particular, no que tange ao comentario da Elaine:
Acho que (quase) todos concordam que eh necessario lutar por uma maior e melhor 
participacao de grupos sub-representados na sociedade, dar voz nas instancias 
de decisao a representantes destes grupos, dar voz nas instancias de decisao a 
representantes de grupos com necessidades especificas, etc.

Todavia (ja Fora do escopo do comentario da Elaine):
Nao creio ser consensual ter como norma substituir Equidade ao inves de 
Igualdade (Equity instead of Equality) como criterio de justica social.
Eu, pelo menos nao acho que este seja um criterio desejavel, ou mesmo viavel, 
para construir uma sociedade melhor.

Finalmente, reconheco que estas sao questoes dificeis.
Na pratica, o manejo destes problemas "resiste" a nossas teorizacoes e 
categorizacoes, e a "inercia dos velhos habitos" sempre permeia e contamina 
nossas (coletiva e endividualmente) decisoes e acoes.

Como avancar para resolver estes problemas, sem gerar reacoes, recuos e 
retrocessos maiores e piores que possiveis avancos?
Com paciencia, muito mais paciencia, disponibilidade (de ouvir mais do que 
falar), boa vontade (de refletir e mudar de opiniao), determinacao (de seguir 
adiante), discursos sobrios e esclarecedores, evitando a cada passo 
polarizacoes paralizantes e buscando a construcao de consensos.

Fico por aqui com meus 3 centavos.
Vamos em frente que atras vem gente.
Tudo de bom para 2004 e o futuro,
---Julio Stern













________________________________
From: logica-l@dimap.ufrn.br <logica-l@dimap.ufrn.br> on behalf of Elaine 
Pimentel <elaine.pimen...@gmail.com>
Sent: Friday, December 29, 2023 9:21 AM
To: Wagner de Campos Sanz <wagners...@gmail.com>
Cc: Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA 
<logica-l@dimap.ufrn.br>
Subject: Re: [Logica-l] Caso de vira-latismo e misoginia no CNPq- será o 
primeiro????

Caro Wagner,

Eu não estou assumindo nada sobre quem fez o parecer e a nota, além de que são 
despreparados para o serviço. (Interessante, entretanto: como você chegou a 
essa conclusão sobre gênero a partir das minhas palavras?)

Apenas disse que mulheres sofrem violência de gênero todos os dias, o tempo 
todo. E que há várias maneiras de "diminuir" isso, uma delas é ter comitês mais 
diversos -- acredito nisso piamente!

Abraços,

On Fri, Dec 29, 2023 at 9:02 AM Wagner de Campos Sanz 
<wagners...@gmail.com<mailto:wagners...@gmail.com>> wrote:
Querida Elaine e colegas,

Infelizmente, você está assumindo que o parecerista foi um homem, mas nem podem 
haver provas públicas disso. E se for uma mulher desastrada?  No parecer consta 
que a pesquisadora poderá se recuperar no futuro...
Diferente de vocês, acho que o meio ambiente acadêmico é cheio de cretinos e 
cretinas, e esperar diferente é ilusão. Metade dos colegas das Ifes votou no 
Valdemort.
A falha foi do comitê que devia ter jogado o parecer fora e pedido outro. 
Alguns colegas daqui já pertenceram aos comitês ...

Saudações,

Wagner Sanz

---------- Forwarded message ---------
De: Elaine Pimentel 
<elaine.pimen...@gmail.com<mailto:elaine.pimen...@gmail.com>>
Date: sex., 29 de dez. de 2023 05:03
Subject: Re: [Logica-l] Caso de vira-latismo e misoginia no CNPq- será o 
primeiro????
To: Walter Carnielli <walte...@unicamp.br<mailto:walte...@unicamp.br>>
Cc: Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA 
<logica-l@dimap.ufrn.br<mailto:logica-l@dimap.ufrn.br>>


Caro Walter,

Obrigada pela mensagem. Eu já havia visto em vários lugares também, e essa 
notícia me abalou muito mesmo.

Eu acho que, de fato, há muito o que refletir. Mas não para jovens 
pesquisadores que aspiram submeter um projeto PQ, e sim para quem roda a 
máquina de moer gente que faz pesquisa no Brasil.

Enquanto não trocar a engrenagem, enquanto pareceristas deixarem de ser 
"recrutados" sem o mínimo treinamento e orientação, enquanto não se tiver um 
balanço de diversidade nesses comitês, vamos ter pareceres deploráveis como 
esse e respostas ridículas como essa do CNPq (de fato, quem assinou isso??)

Pra mim, a mensagem que fica é: mulheres cientistas, reencarnem homens brancos 
de meia idade. Porque, sinceramente, estou cansada de "refletir" e tentar mudar 
o que parece mesmo impossível ser mudado.

Abraços bem sem muita esperança,

On Fri, Dec 29, 2023 at 4:13 AM Walter Carnielli 
<walte...@unicamp.br<mailto:walte...@unicamp.br>> wrote:


Colegas:

Copio aqui a matéria do  GGN de 28/12/2023,  mas está em vários outros lugares.

Acho que é um ponto importante para reflexão de todos aqueles que têm, ou 
aspiram ter, bolsa PQ do CNPq.

========///

Repercute nas redes sociais nesta semana o caso da cientista social, professora 
e pesquisadora da Universidade Federal do ABC (UFABC), Maria 
Carlotto<https://linktr.ee/mariaccarlotto>, que expôs na internet o teor do 
parecer que recebeu do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq), órgão 
vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, negando uma bolsa 
produtividade com argumentos que chocaram a comunidade acadêmica no País.

O parecer do CNPq sublinhou que Maria Carlotto não tem estudos no exterior e 
considerou que, muito provavelmente, isso se deu porque ela teve dois filhos ao 
longo dos últimos anos. A mensagem que trata a maternidade como um empecilho à 
carreira científica e que valoriza passagens em instituições internacionais 
sobre as nacionais, foi alvo de críticas e acabou projetada em jornais como a 
Folha de S. Paulo.

“Resultado preliminar da bolsa produtividade CNPq reconhece a minha carreira, 
mas aponta que não fiz pós-doc fora. Pandemia? Governo Bolsonaro? Não… 
‘provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas, o que poderá ser 
compensado no futuro’. Vontade de chorar”, escreveu Maria Carlotto na rede 
social X. A publicação tem mais de meio milhão de visualização na plataforma.


Para a advogado e antropóloga Debora 
Diniz<https://www.instagram.com/p/C1ZKhxPoeE5/?igsh=YnphbHNycXhwaHd4>, “há 
vários erros neste parecer. Salta aos olhos o colonialismo, a misoginia e a 
arrogância”.

“Não sei o que o parecer entende como pós-doutorado — será o trabalho de dois 
ou três anos de jovens doutores como assistentes de um professor sênior, ou as 
licenças/estágios acadêmicas brasileiras de um ano para pesquisa? Qualquer que 
seja a compreensão (repito: são muito diferentes), a colonialidade da avaliação 
é assustadora. “No exterior” é onde estaria o selo de mérito que faltaria à 
professora”, criticou Diniz numa publicação no Instagram.

“Está fora da imaginação intelectual do parecerista a possibilidade de uma 
formação sólida e continuada no país. Está fora da imaginação que uma mulher 
com filhos possa ser doutora, pesquisadora e professora. A tal ponto que se 
candidata ao início da carreira de pesquisadora do CNPq”, completou a jurista.

O outro lado

Em nota, o CNPq pediu desculpas pela situação, alegando que “tal juízo é 
inadequado tanto porque um estágio no exterior não é requisito para a 
concorrência em tal edital quanto por expressar juízo preconceituoso com as 
circunstâncias associadas à gestação. Não é, portanto, compatível com os 
princípios que regem as políticas desta agência de fomento. A agência tem em 
suas normas, inclusive extensões de períodos de bolsa e de avaliação em 
decorrência de maternidade”.

O órgão explicou também que “tal juízo foi formulado em parecer ad hoc, não 
tendo sido corroborado pelo comitê assessor responsável pelo julgamento, o qual 
fez análise de mérito comparativo com as propostas da mesma área apresentadas 
no edital e sopesou a disponibilidade de recursos orçamentários, sem considerar 
tal parecer. Os pareceres ad hoc são emitidos por especialistas, respeitando o 
sigilo de sua autoria, e são subsídios que os comitês podem ou não incorporar 
em seus julgamentos. Ademais, os julgamentos podem ser objeto de recursos pelos 
proponentes, recursos estes que são julgados por comissão institucional sem a 
participação dos comitês que fizeram o julgamento preliminar”.

Para Debora Diniz, não basta o CNPq fazer uma retratação pública. “Não é 
matéria de desculpa apenas: é urgente a atuação institucional para a 
compreensão da seriedade da pareceres, da sensibilidade para gênero, raça e 
região da candidata. É preciso anular este ciclo decisório das bolsas, 
comprometer-se ao treinamento dos parecerista, substitui-los, e novamente o 
processo ser aberto.”

O CNPq afirmou que “não tolera atitudes que expressem preconceitos de qualquer 
natureza, sejam eles de gênero, raça, orientação sexual, religião ou credo 
político. Por essa razão, a agência instruirá seu corpo de pareceristas para 
maior atenção na emissão de seus pareceres, e a Diretoria Científica levará 
este caso concreto à Diretoria Executiva do CNPq para o exame das providências 
cabíveis”.

Violência de gênero

Após a divulgação da nota de esclarecimento, a professora Maria Carlotto voltou 
às redes sociais<https://twitter.com/maria___maria/status/1740070761350811876>. 
Ela manifestou que o erro foi do parecerista, mas o CNPq “deveria ter 
interditado o parecer como um todo. Na prática, o CNPq me incentivou a submeter 
um projeto pós-licença maternidade e me submeteu, depois, a uma violência de 
gênero.”

“(…) mesmo que eu use o meu direito ao recurso, isso não apaga a violência 
cometida. E, de novo, não é sobre mim e sobre este caso, que não deve ser 
isolado, mas sobre como vamos construir editais realmente abertos a mulheres, 
especialmente aberto a mulheres mães”, finalizou.

Leia a nota completa do CNPq 
aqui<https://www.gov.br/cnpq/pt-br/assuntos/noticias/cnpq-em-acao/nota-de-esclarecimento-1>.

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