Caros,

devo confessar que meu primeiro pensamento depois de ler o email do
Chalmers foi (infelizmente): "mas que cara mulherengo!" Talvez pela
formulacao direta e infeliz dele no lapidar "nao participo de evento onde
nao há mulheres".

Mas depois lendo com calma vi que tinha interpretado mal e que ele tinha
feito de fato um ponto importante. Já havia, naquela altura, convidado mais
de 10 pesquisadores. Chalmers foi o unico que me chamou a atencao ao fato
escandaloso de só ter pensado em pesquisadores homens.
Eu o respondi pedindo uma lista de nomes de pesquisadoras. Me respondeu
prontamente. A lista me impressionou pela qualidade (bons artigos que
desconhecia), internacionalidade (nao havia nenhuma australiana, mas também
nenhuma fora dos EUA ou Europa), e diversidade temática (vagueza, qualia,
estados disposicionais etc.)

Medidas afirmativas sao sempre muito polemicas, sobretudo se nos
concentrarmos em razoes possíveis. Podemos, até com incentivos bem
intencionados, acabar gerando mais problemas e mais distorcoes. Mas quanto
a este "gendered conferences", certamente vou prestar mais atencao neste
"implicit bias" daqui por diante. Podem ser inconscientes, mas vale
traze-los à luz da reflexao, porque muito desencaminhadores.

Pensar um pouco no que e quem a gente está lendo pode ser bastante
revelador. Afinal é romantico pensar que pesquisa seja independente e
neutra em relacao à sociedade onde estamos inseridos. É claro que pode
refletir (e até estimular) algumas injusticas históricas. Aqui nossas
responsabilidades enquanto pesquisadores é ainda mais evidente. Chalmers
cumpriu seu papel neste sentido, na minha opiniao.

abraco,
Marcos




2014-02-12 21:47 GMT-03:00 Joao Marcos <botoc...@gmail.com>:

> > Pensar em qualia é pensar no David Chalmers. Fiz um convite, entao. Ele
> > declinou alegando 1) falta de tempo em 2015, 2) nao poder agora fazer uma
> > contribuicao ao tema principal do evento e 3) nao ter mulheres no evento.
> > As duas primeiras razoes eram esperadas. A terceira foi uma surpresa para
> > mim.
>
> Chalmers certamente chamou a atenção para uma questão muito importante
> sobre a qual refletir.  Acho que você deveria responder à mensagem
> dele agradecendo por ter levantado a lebre e pedindo gentilmente a ele
> que sugerisse, para ajudar, uma lista de nomes cujas denotações tenham
> o gênero certo e que trabalhem sobre o tópico em questão.
>
> Andei pensando sobre a lista de autores dos papers que li nos últimos
> dois meses, e fiz uma busca nas bibliografias citadas nestes mesmos
> papers.  Descobri (em muitos casos, apenas após alguma investigação)
> que os autores são predominantemente do sexo masculino.  São também
> predominantemente judeus.  Mas no mais das vezes não faço ideia
> quantos seriam deficientes, ou negros, ou membros de outros grupos
> sub-representados.  Curiosamente, eu não tinha tido pensado em nada
> disso até agora.  Quero imaginar, de todo modo, que uma tal descoberta
> tardia não teria afetado minha opinião sobre o conteúdo destes mesmos
> papers.
>
> C. Dutilh-Novaes organizou uma lista de "mulheres em lógica" (não
> necessariamente da área de Filosofia).  Não é muito longa --- 74
> nomes, no dia de hoje, mesmo após quase dois anos em que foi lançada:
>   http://loriweb.org/women-in-philosophy-of-logic-and-philosophical-logic/
> Novos nomes são sempre bem-vindos.
>
> JM
>
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