Cassiano, camarada,
Agradeço sua paciência e sua disposição para trazer elementos históricos e
sociológicos relevantes para esta troca de mensagem a que não consigo
sequer chamar de discussão, pois até pra isso falta.
Eu, que de longe mal observo, penso que se uma historiadora um dia se
propuser a fazer a história da lógica-l, ou melhor, se alguém fizer um
apanhado, escrever um capítulo sobre as discussões off-topic que ocorrem
aqui, terá um material e tanto com o qual estudar a psicologia dos lógicos
brasileiros (boa sorte!). E se for publicada, então, será também causa de
alguma vergonha para a “comunidade lógica”.

É assustador, pra dizer o mínimo, o nível da “conversa” do momento.
Senhores lógicos, vacinados e vermifugados, argumentando com ”evidências”
as mais disparatadas, sem tratamento histórico, sem cuidado sociológico,
sem atenção conceitual… e sobre um assunto, um genocídio altamente
televisionado  que se anunciava há anos e que deveria (a meu ver) mobilizar
a melhor parte de nossa humanidade..

Axé pra quem é de Axé, Feliz Páscoa pra quem é de Páscoa, e que a Paz
esteja com vocês.

E um abraço especial pra JM, que não desiste de manter a lista! Bravo!

G.

Gisele Dalva Secco

ORCID <https://orcid.org/0000-0003-3290-746X>
PhilPeople <https://philpeople.org/profiles/gisele-dalva-secco>


On Sat, Mar 30, 2024 at 5:50 AM Cassiano Terra Rodrigues <
cassiano.te...@gmail.com> wrote:

> Camaradas, eu não ia me pronunciar, mas diante dos absurdos q li aqui, não
> dá pra ficar quieto.
> Desculpem, mas muita gente aqui na lista de lógica precisa lembrar da
> história pra não incorrer em falácia de suprimir evidências (posso crer q
> não é intencional, mas não deixa de ser falácia).
> Pra começar, mais soviéticos morreram na 2a Guerra do q judeus.  Camarada
> Stalin é bem conhecido por essas e outras, mas não quero ser injusto com
> ele sem lembrar os parças Churchill, De Gaulle et caterva.
> E se há um direito à autodeterminação dos povos, o direito à existência
> dos estados é uma invenção moderna, ineficiente até Thomas Paine
> registrá-lo por escrito - afinal, era preciso justificar o nascimento da
> nova nação (um filme com Al Pacino, de 1985, _Revolução_, mostra bem como a
> ideia não era lá muito popular). Depois disso, a ideia definitvamente
> ganhou contornos reacionários com Ernest Renan no séc XIX. Agora, para
> Renan, o direito à existência estatal vai até onde chega a disposição de
> seu povo de se autossacrificar (é de Renan q Peirce toma o elogio do
> autossacrifício como fundamento da logicidade, vejam só, lógicos: é ilógico
> não se sacrificar para salvar a comunidade? E q lugar cada um ocupa na
> comunidade?). É nesse contexto q nasce o sionismo, como ideologia direitosa
> q se impôs apesar da resistência de muitos judeus (judeus de esquerda?
> Existem, sim, apesar de ser incômodo lembrar). O q fazem hj com a memória
> do Brit Shalom é um rapto vergonhoso, um movimento q nunca foi sionista é
> pintado como se fosse um sionismo puro e imaculado. Lamento em informar,
> pode até existir esquerda sionista, mas não existe sionismo de esquerda.
> Com toda a manipulação do espetáculo mediático, não admira q o sionismo
> seja vendido como se fosse humanitário, limpinho e bonitinho, mas o fato é
> q o sionismo é só uma forma de nacionalismo racista e imperialista q se
> nutre da mistificação da Shoah como evento excepcional. Mas nem isso: nada
> do q os nazistas fizeram na Europa foi novidade, no Brasil e na África já
> tinha sido feito, até fornos para queimar gente, os alemães só
> aperfeiçoaram e racionalizaram (toda comunidade é imaginada, mas os
> imaginários diferem, né? Klaus Theleweit escreveu um livro monumental a
> respeito de qual imaginário alimentou o nazismo, e lamento informar de
> novo, não difere muito dos atualmente mais conhecidos). Em suma. O q o
> governo nazisionista de Israel demonstra é uma disposição para genocidar os
> palestinos, e não ao autossacrifício e isso nada têm q ver com direito à
> autodeterminação dos povos, o q o discurso proselitista de Israel confunde
> muito convenientemente. Tem q ver sim com o elitismo de uma comunidade
> inventada sobre o mito da dádiva divina e do merecimento supremo por terem
> sido vítimas da história. Que fique claro: nada justifica ou invalida a
> Shoah, mas os palestinos - esses sim, genuinamente um povo, não uma
> religião - não combatem Israel por ser um estado judaico, mas por ser um
> estado colonialista, por ter sido uma invenção do imperialismo
> contemporâneo q não queria dividir as terras na Europa, aonde de direito os
> judeus de lá expulsos teriam de ser repatriados. Realmente, seria muito
> pouco conveniente dividir a terra da Baviera ou da Ucrânia (alô Churchill,
> De Gaulle e Truman, pq não permitiram a Stalin o caminho até o porto? Alô,
> Stalin, pq não recebeu de volta os expulsos da Polônia?). E não é de hoje q
> a Rússia busca abrir caminho até o mar negro, até Machado de Assis
> registrou os impasses da Guerra da Crimeia (em Dom Casmurro, agradeçam me
> depois pela fonte, se já esqueceram da literatura). Então, pq não instaurar
> um estado aliado onde os Árabes estão? Pq em Israel não habitam os judeus
> negros da Etiópia? (Não é pq não quiseram #spoiler). Se naquela época havia
> muito vagamente a ideia de uma nação pan-arábica,  mas ainda não estavam
> constituídos os estados atuais, pq não começar a divisão, né? Mas não vai
> dar pra ser como no XIX (alô Inglaterra, tem gente aí?)
> Agora, vamos lembrar de mais uma coisa q precisa ser lembrada, passando da
> história à teoria política. A própria ideia de estado nacional é q precisa
> ser derrubada e superada. Se não há imaginação política para além de uma
> forma colonialista mais nova do q o romance ocidental, então realmente
> vamos mal. Nenhum estado tem direito à existência, todos os povos têm
> direito à autodeterminação. O estado brasileiro é o maior exemplo disso,
> erguido sobre séculos de assassinatos e expoliações (q ainda continuam).
> E é preciso tb dizer sem medo, judeu não é etnia, é religião. A
> essencialização do ser judeu já foi denunciada até mesmo por quem é chamado
> de judeu (Marx no XIX, Schlomo Sand no XX, e muitos outros, é fácil
> descobrir - e deixar de ser, quem se dispõe a não ser, é claro - é
> paraconsistente isso? Ou é só coerência mesmo?).
> Podem me chamar de antissemita,  mas não sou. Não me venham com esse
> discursinho raso. Ao contrário, sou muito defensor do direito à fé e à
> autodeterminação, nos termos q escrevi. Não sou livre de contradições e nem
> desejo tanto.  Mas a má fé, o racismo e a ideologia elitista e reacionária
> eivada de catolicismo mofado não me pertencem.
> Um abraço a quem fica e saudações aos q têm coragem. Amizade é a mesma, só
> a luta muda a vida.
> cass.
>
>
> --
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> Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de
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