Prezado Daniel,

Minha escolha da palavra "desnecessária" foi infeliz. Seria mais
correto dizer "insignificante", "sem nenhum valor", "um mero enfeite
inútil", etc. O problema é: "será que teríamos a tecnologia T, se não
for pela teoria C?". Por exemplo: "conseguiríamos ter linguagens de
programação sem a teoria da recursão e das linguagens formais?".

Também acho extremo uma exageração no estudo de teorias. Fiquei
sabendo de um curso de sorveteiro que tinha fundamentos de química,
que ficavam totalmente alheios à prática do sorveteiro.

E também é claro que eu não me oponho a que seja apresentada uma outra
teoria concorrendo com C, o que aconteceu muitas vezes na história.

Assim como o caso da substituição que comentei, eu vi muitas vezes
cometer erros em matemática e computação por falta de conhecimentos
lógicos.

Com relação à valoração ciência versus tecnologia, acho que realmente
tem uma resposta axiológica e não objetiva. Desde o ponto de vista
prático, as tecnologias mudaram nossas vidas e são vistas como "boas",
valorativamente. Num contexto mais geral, não sei se tem muito sentido
comparar as equações de Maxwell ou as pesquisas de Hertz com um
aparelho de TV.

Nesse sentido o que mais me preocupam são as posições obscurantistas
que se ocultam sob a pele de cordeiro da prática para rejeitar a
teoria. O estudante que está com preguiça de pensar uma questão
complicada que está sendo colocada e pergunta: "professor, onde eu vou
usar isso?". E essas posições são as que batem palmas euforicamente
quando alguém fala "não é necessário saber C".

Carlos


2012/10/21 Daniel Durante <dura...@ufrnet.br>:
> Oi Carlos,
>
> Eu entendo o que você está dizendo e concordo com você. Mas a gente também
> precisa tomar cuidado com o abuso oposto. Você disse:
>
>> De uma teoria científica C é derivada uma tecnologia T. Essa tecnologia é
>> muito útil e muitas pessoas apreendem T sem ter ideia de C. Então concluem
>> falaciosamente que C es desnecessária, uma perda de tempo, etc., porque
>> aplicam T e obtém o que eles queriam, de modo que T é realmente importante e
>> não C.
>
>
>     No sentido mais estrito do termo, C é mesmo desnecessária para T. O fato
> de C explicar/fundamentar T não significa que C seja a ÚNICA
> explicação/fundamentação possível. Não significa que não possa haver (ou não
> haja) outra explicação para T fundada em outra teoria C'. Se este for o
> caso, então C não é necessária para T, mas apenas suficiente. Suponha que eu
> invente uma geringonça que para funcionar dependa de minha habilidade de
> prever eclipses totais da lua. Tanto a astronomia copernicana (C1)
> fundamenta minha geringonça, quanto a astronomia ptolomaica (C2). E veja que
> C1 e C2 são incompatíveis. Não podem estar ambas corretas.
>     Claro que eu estou exagerando as coisas aqui e, repito, concordo com o
> que você disse no e-mail, mas o ponto que defendo é que aquilo que
> supostamente FUNDAMENTA uma posição, teoria, máquina, projeto,... não é
> necessariamente a única fundamentação disponível (ou imaginável). E não
> sendo a única, não é NECESSÁRIA. Claro que não ser necessária não implica,
> de modo algum, em ser uma perda de tempo! Neste ponto estamos de acordo. Mas
> eu sinceramente acho que a tecnologia T é, realmente, mais importante que
> qualquer teoria científica C que a explique. Afinal de contas, as revoluções
> científicas podem nos tirar do centro do universo e nos colocar na periferia
> de uma dentre muitas galáxias rodopiando em volta de uma estrela de 5a
> grandeza, mas elas não conseguem fazer nenhum de nossos aparatos
> tecnológicos pararem de funcionar.
>
> Saudações,
> Daniel.
>
> _______________________________________________
> Logica-l mailing list
> Logica-l@dimap.ufrn.br
> http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l
_______________________________________________
Logica-l mailing list
Logica-l@dimap.ufrn.br
http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l

Responder a