Caro Walter e lista,

Existe um costume generalizado envolvendo ciência e tecnologia que é
mais ou menos assim. De uma teoria científica C é derivada uma
tecnologia T. Essa tecnologia é muito útil e muitas pessoas apreendem
T sem ter ideia de C. Então concluem falaciosamente que C es
desnecessária, uma perda de tempo, etc., porque aplicam T e obtém o
que eles queriam, de modo que T é realmente importante e não C.

As vezes, alguma coisa dá errada com T. O T'ista não sabe porque, pois
somente sabe repetir T. Ai chega o cientista e explica com C o que
está acontecendo.

Uma vez assisti uma aula de uma demonstração por recursão em
Argentina, na pior época das últimas ditaduras. Alguém que não deveria
ser docente estava fazendo essa prova. A base, o caso zero, não deu
problema. Quanto tinha que fazer o passo de k para k+1, substituiu k
por x, falou que agora não estava mais fixa, depois substituiu x por
x+1 e falou que era igual a k+1, e a demonstração estava completa. Eu
vi.

O que significa isso de que "fixamos" k e por isso não pode ser
substituída? Quando Klimovsky explicou o Teorema da Dedução, comecei a
entender o que estava acontecendo.

Claro, agora é fácil (ou mais ou menos fácil?) dizer "aqui pode
substituir", "aqui não pode substituir", depois de pesquisas
impressionantes por Church, Curry e outros. Mas como escrevem
Curry-Feys:
The extent of the complications in such cases may be seen from the
fact that most formulations of the rule for substitution for a
functional variable in the first-order predicate calculus which were
published, even by the ablest logicians, before 1940, were
demonstrably incorrect; (Curry-Feys-Combinatoric Logic - 1958 - p. 3)

Imagina fazer matemática com uma regra de substituição errada!

Carlos

2012/10/17 Walter Carnielli <walter.carnie...@gmail.com>:
> Caros,
>
> ou vocês não vêm  o ponto, ou  então estão por fora das  contendas
> envolvendo Lógica no BR  nos últimos 25 anos.
>
> " ele aponta não ser necessária a especialização profunda em lógica
> para aplicar teoremas matemáticos."
>
> Mas **quem ** disse que seria?
> O Elon está só fazendo   retórica de baixo clero, mirando no urubú
> para acertar  o gavião.
>
> Eu poderia também   dizer: "Não é necessária a especialização em
> Dinâmica dos Fluidos  para se  decidir sobre a transposição do Rio Sao
> Francisco.  E  quase  nenhum matemático  precisa saber Geometria
> Simplética  ou Teoria Ergódica, e de fato, quase nenhum que conheço
> sabe. A  matem[atic que se faz no IMPA  é especializada, e se bem que
> ainda  não garantiu nenhuma  Medalha Fields, deve ser  deixada  lá,
> aos  seus especialistas".
>
> Tudo isso é  mais pura verdade, mas   **precisa** dizer isso??
>
> De  olhos bem abertos,
>
> Walter
>
>
> Em 17 de outubro de 2012 11:37, Igor Morgado <morgado.i...@gmail.com> 
> escreveu:
>> Gostei da entrevista e obrigado pelo texto. Sem querer fomentar maior
>> discussão, acho que o Elon esta correto ao dizer que:
>>
>> "A logica matemática é um ramo da matemática, do mesmo modo que a Geometria,
>> a Algebra (...) "
>>
>>
>> "Imagine um matematico: no dia-a-dia ele não sabe nada de logica matemática.
>> Se souber melhor (...)" (grifo meu)
>>
>>
>> Sem perda de generalidade, saber um ramo qualquer da matemática apoia você
>> para descobrir outros ramos da matemática, mas não são NECESSÁRIOS.
>>
>> "A maioria dos matemáticos que conheço não sabe nada de Lógica; ele sabe
>> essa lógica do dia-a-dia, do manejo da Matemática, que é o be-a-bá da
>> Lógica".
>>
>> Da mesma forma, ele não exclui a lógica do curriculo matemático, mas sim ele
>> aponta não ser necessária a especialização profunda em lógica para aplicar
>> teoremas matemáticos. E ele ainda define a logica "necessária", como a logia
>> do dia a dia do manejo da matemática, que o ferramental para
>> "Hipotese/Tese/Negação/Afirmação/Condição necessária¨  que sabemos fazer
>> parte dos fundamentos de qualquer curso de lógica.
>>
>> O que vai de encontro com o vídeo apresentado neste tópico.
>>
>>
>>
>> 2012/10/11 Joao Marcos <botoc...@gmail.com>
>>>
>>> Nas páginas 104 a 106 desta entrevista, de 2002 (dois anos antes do
>>> video circulado), Elon diz o que pensa sobre Lógica:
>>> http://matematicauniversitaria.ime.usp.br/Conteudo/n33/n33_Entrevista.pdf
>>>
>>> Ninguém é obrigado a concordar com ele.  É uma opinião pessoal.
>>> JM
>>>
>>> 2012/10/10 Walter Carnielli <walter.carnie...@gmail.com>:
>>> > Colegas:
>>> >
>>> > Neste curioso vídeo  onde o povo do IMPA  agora dá aulas de Lógica no
>>> > YouTube:
>>> >
>>> > http://www.youtube.com/watch?v=y47D5GvKKeA&feature=related
>>> >
>>> > o conhecido analista Elon Lages Lima (IMPA)  afirma categoricamente
>>> > (entre 2min40s- 3 mim) que  os matemáticos não precisam saber lógica.
>>> > Ente outras frases:
>>> >
>>> > “Nao há necessidade  nenhuma de  usar  lógica  na matemática”
>>> >
>>> > “Toda  a  parte da  lógica que a  gente precisa saber é baseada  no
>>> > senso comum e na  teoria dos conjuntos”
>>> >
>>> >  As  noções de   **lógica  proposicional** de fato se traduzem, sim, a
>>> >  operações sobre conjuntos: mas  lógica não é, obviamente,  só isso!
>>> > Um exemplinho:
>>> >
>>> > (i) Nenhum número  lindo  é divisível  por 2
>>> >
>>> > (ii) Alguns  números divisíveis  por 2 são divisíveis por  3
>>> >
>>> > Conclua que:
>>> >  (iii) algum número  divisível por 3 não é lindo
>>> >
>>> > Usando:
>>> > (a)  L(x): x  é  lindo
>>> >
>>> > (b)  D(x):  x é  divisível por 2
>>> >
>>> > (ic)  T(x):  x é  divisível por 3
>>> >
>>> > o problema é simbolizado da seguinte  maneira, (NAO na  Lógica
>>> > Proposicional, mas na  Lógica de Predicados!!)
>>> >
>>> > - - - - - - - - - --
>>> > (i) (∀x) (L(x) → ~ D(x))
>>> >
>>> > (ii) (∃x) (D(x) ∧ T (x)).
>>> >
>>> > Mostre que:
>>> >
>>> > (iii) (∃x) (T(x) ∧ ~ L(x))
>>> > - - - - - - - - - - -
>>> > Pergunto: o   Elon consegue  mesmo concluir isso usando  **somente**
>>> > Lógica  Proposicional, como ele  prega?
>>> >
>>> >
>>> > Abs,
>>> >
>>> > Walter
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>>> > Prof. Dr. Walter Carnielli
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