Marcelo Finger <marcelo.fin...@gmail.com> escreveu:

> Como seria uma prova construtiva do resultado de Turing sobre a
> existência de números (reais) não computáveis?
>
> A prova clássica é fortemente não construtiva e não apresenta um tal
> número. E nem poderia apresentar pois se houvesse um algoritmo que o
> gerasse, o número seria construtivo.
>
> Mas uma prova construtiva deveria apresentar um tal número. Mas como?
> Fico com a impressão de que este resultado não é provável na lógica
> intuicionista.

Superficialmente, isto é, no âmbito puramente lógico, a demonstração
intuicionista mostraria que nem todos os números reais são computáveis
(¬∀x C(x), x ∈ ℝ) o que, intuicionisticamente, *não* é equivalente a
mostrar que existem números reais não computáveis (∃x ¬C(x), x ∈ ℝ).

No âmbito matemático mais fino, contudo, deve-se atentar ainda para a
presença de noções baseadas em definições intuicionisticamente
inadimissíveis.  Assim, a noção de número real intuicionista não
coincide com a noção de número real clássica, na medida em que podem
haver definições e especificações clássicas de números reais que não são
admissíveis para um intuicionista.  De fato, é na análise real que as
peculiaridades da matemática intuicionista se revelam com maior vigor.

Porém, eu suspeito que a noção *clássica* de número real não seja
essencial ao argumento de Turing.  Não sei exatamente a qual trabalho de
Turing você se refere, mas presumo que esteja se referindo ao artigo
clássico de 1936.  Ali, se não me falha a memória, Turing mostra que as
sequências e números computáveis são enumeráveis.  Bem, como os números
reais não são enumeráveis, segue que nem todos os números reais são
computáveis, isto é, classicamente, existem números reais não
computáveis.  Do ponto de vista intuicionista, a última parte, incluindo
o apelo ao resultado de Cantor sobre a não enumerabilidade dos números
reais, *pode* ser problemática.  Mas o argumento de Turing que mostra a
enumerabilidade dos números computáveis me parece em ordem.

Ademais, intuicionistas normalmente não possuem reservas quanto à
argumentos diagonais.  Porém, como lembrou o João Marcos, sentimentos
podem variar dentro da grande família construtivista: finitistas,
predicativistas e etc. podem ter lá suas desconfianças.

-- 
Hermógenes Oliveira

-- 
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