Acrescento um exemplo relevante: apesar do termo "théorie de la
démonstration" ser usado em francês, veja como se intitula o laboratório de
Jussieu que faz pesquisa em teoria da prova no que se relaciona com a
computação:

Laboratoire <goog_52851488>
Preuves, Programmes et Systèmes <http://www.pps.jussieu.fr/>
Ruy

Em 13 de novembro de 2011 07:50, Ruy de Queiroz <r...@cin.ufpe.br> escreveu:

> Caro João Marcos,
>
> Louvo teu esforço (hercúleo, por sinal) em tentar estabelecer uma
> terminologia para uma área que já tem uma (bem) estabelecida. Concordo com
> Valéria: há um limite para a discussão sobre terminologia. Francamente, os
> argumentos em favor de "demonstração" não me convencem.
>
> Como já te disse em mensagem anterior, considero o termo "prova" mais
> adequado. Soaria no mínimo estranho o uso de "demonstração" para traduzir
> diversos termos já consolidados como: "proof object" (concordo com Elaine),
> "proof construction", "proofs as programs", "proof system", "zero-knowledge
> proof" (e, nesse contexto, "prover" versus "verifier"), "proof term", etc.
>
> Um abraço,
>
> Ruy
>
> Em 10 de novembro de 2011 05:23, Valeria de Paiva <
> valeria.depa...@gmail.com> escreveu:
>
> oi Joao Marcos,
>> eu sabia que essa ia dar panos pra manga....
>>
>> Ok, vamos la:
>> (0) Nao corro da raia e concordo plenamente que precisamos discutir
>> assuntos como a terminologia da area em que trabalhamos, mas nao
>> podemos exagerar, ne?
>>
>> (1)
>> >Sobre a curiosa observação de que "não dá para proibir termos
>> consagrados pelo uso"...
>> eu tb esclareço que nao disse isso. Disse que pra mim 'e o uso que
>> determina a lingua e nao pronunciamentos, seja de quem for. (Ainda que
>> eu concorde que 'e necessario batalhar contra usos que nos parecam
>> pouco apropriados, no final das contas vence o que o povo resolver
>> usar. Pra matematica e pra tudo mais na lingua. )
>>
>> (2)  o argumento da eufonia pra mim nao 'e tao importante.
>>
>> (3)
>> >Não sei de onde exatamente teria saído a tal distinção entre
>> >"demonstration" (que segundo vocês significaria "demonstração com
>> >premissas") e "proof" (que significaria "demonstração sem premissas").
>>
>> bom, pra mim saiu  do pai de todos,  "Natural Deduction:  a proof
>> theoretical study, Dag Prawitz", pagina 24, linha -3, na edicao da
>> Dover. Exceto que , como a Andrea corrigiu 'e distinção entre
>> "deduction" and "proof".
>>
>> (4)
>>  >no discreto ramo da lógica contemporânea conhecido como *Teoria
>> > das Demonstrações* (que os matemáticos praticantes em geral ignoram
>> > por completo, e da qual poucos sequer ouviram falar, e que certamente
>> > ainda conta com pouquíssimas publicações realmente representativas na
>> > nossa língua) precisamos de termos técnicos precisos e cuidadosamente
>> > projetados/escolhidos, pois as "demonstrações", as proposições
>> > "demonstráveis" e a própria noção de "demonstrabilidade" são seus
>> > _objetos de estudo_!
>>
>> Sim, concordamos em genero, numero e grau (com pedidos de desculpas
>> pela falta de um teclado competente que faca os acentos necessarios!)
>> com:
>>
>> 1. o fato de que poucos matematicos sequer ouviram falar da teoria em
>> questao
>> 2.  que esta conta com pouquissimas publicações (cortar-e-colar
>> funciona...) representativas na nossa lingua;
>>  e principalmente com
>> 3. "precisamos de termos técnicos precisos e cuidadosamente
>> projetados/escolhidos, pois as "demonstrações", as proposições
>> "demonstráveis" e a própria noção de "demonstrabilidade" são seus
>> _objetos de estudo_!"
>>
>> Sim! Exatamente. mas eu posso chamar as demonstracoes de "provas" e a
>> "Teoria das demonstrações" de "teoria da prova" pois acho que "Teoria
>> da Prova" e' um nome tao bom quanto o inicial.
>>
>> Nao me sinto agredida de forma alguma pela mensagem, mas tambem (dessa
>> vez somente, normalmente voce me convence...) nao estou convencida de
>> que a mudanca de terminologia e' necessaria nesse caso. Os argumentos
>> apresentados nao foram suficientes. Tente de novo.
>>
>> Abracos (com)provaveis,
>> Valeria
>>
>>
>>
>> 2011/11/9 Joao Marcos <botoc...@gmail.com>:
>> > ["Disclaimer":
>> > esta mensagem representa apenas a minha _opinião_ (e a outra opinião
>> > de que outra pessoa ela poderia representar?), que eu gostaria de
>> > defender sem que ninguém se sentisse agredido com isto.]
>> >
>> >
>> > PessoALL:
>> >
>> > Sei que a maior parte das pessoas não vai se dar ao trabalho de ler
>> > esta longa mensagem.  Mas ficam registrados os argumentos --- quem
>> > sabe ao menos encontrarão tolerantes e bem dispostos leitores futuros?
>> >
>> > Agradeço as respostas enviadas, na lista ou em privado.  Vou tentar
>> > não ficar me alongando sobre o assunto em inúmeras réplicas, até
>> > porque não sou tão presunçoso a ponto de imaginar que um quixote
>> > sozinho possa mudar a terminologia de uma área --- supondo que ela já
>> > esteja de fato "bem estabelecida no Brasil", como alguns parecem
>> > acreditar.  Acresço portanto apenas algumas breves clarificações sobre
>> > o que eu disse anteriormente, e respondo alguns dos pontos principais
>> > levantados pelos colegas.
>> >
>> >
>> > (0) Não tenho dúvida de que é mais fácil não fazer nada, permanecer
>> > acomodado ou até mesmo fingir que nunca ouvi falar do assunto do que
>> > realmente rever sistematicamente, de caso pensado, algumas das nossas
>> > práticas linguísticas.  Se um caso de sucesso pode ser relatado,
>> > contudo, posso eu próprio dizer que há vários anos abandonei a palavra
>> > "prova" _em Lógica_, e hoje posso afirmar, com orgulho,que o vício
>> > está inteiramente superado!  (Como é que diz mesmo a "irmandade do
>> > AA", neste tipo de situação?)  ;-)
>> >
>> > Quem trabalha em Ciência frequentemente se depara com dificuldades de
>> > cunho linguístico, algumas das quais se desvanecem simplesmente ao
>> > passarmos de uma língua natural para outra.  O pessoal do Direito está
>> > sempre se chateando com o fato de que as pessoas em português
>> > confundem "right" e "Law" (ambas palavras que podem ser traduzidas
>> > como "direito"), ou "legal" e "nice" (essa confusão só acontece no
>> > Brasil, onde o primeiro termo é uma gíria conhecida).  O pessoal da
>> > Psiquiatria, por outro lado, precisa ter muito cuidado para não
>> > confundir "consciência" (= "conscience") com "consciência" (=
>> > "consciousness").  Por sorte (?) o primeiro termo (conscience!) está
>> > relacionado com um estado de "consciência" (consciousness?) também
>> > conhecido como "vigília".  E por aí vai...
>> >
>> > É claro que não estou sugerindo que o Português seria o "exemplo
>> > paradigmático de pobreza linguística" (bom, o Português Científico é
>> > de fato razoavelmente pobre, e a culpa disso é em parte nossa, como
>> > tenho apontado).  Em Inglês / Francês, por exemplo, também nos faz
>> > falta muitas distinções importantes que para nós estão claras e são
>> > fundamentais, a começar da diferença verbal entre "ser" e "estar"...
>> > A "busca da língua perfeita" animou sempre bastante gente --- e o
>> > Umberto Eco tem um belo livro a respeito.
>> >
>> > Tenho, devo dizer, uma tese (hipótese?) de que muita "Má Filosofia"
>> > [mais uma vez, a terminologia que uso aqui é obviamente
>> > idiossincrática] tem como origem justamente algumas instâncias[*] de
>> > pobreza linguística que levam as pessoas pensar que _isto_ é ^aquilo^
>> > simplesmente por que as duas coisas são circunstancialmente chamadas
>> > pelo mesmo nome, em um dado idioma...  Mas não se preocupem, não vou
>> > defender esta (hiper/hipo)tese aqui.  Não agora. :-)
>> >
>> >
>> > (1) Sobre a curiosa observação de que "não dá para proibir termos
>> > consagrados pelo uso", esclareço: não propus _proibir_ nada, apenas
>> > apontei o ^equívoco^ da escolha, "consagrada" ou não, de certos
>> > termos, em campos específicos de estudo em que estes termos _precisam_
>> > ser bem escolhidos / esclarecidos.
>> >
>> > Em Computação, aliás, esse tipo de equívoco acontece o tempo todo,
>> > justamente graças a uma certa leviandade daqueles que têm nas mãos o
>> > poder de *decidir as coisas*.  Foi assim que assistimos nos últimos
>> > anos a introdução do termo "deletar" na língua brasileira, importado
>> > do latim por uma via bastante oblíqua: a língua inglesa.  Pior, graças
>> > à Microsoft tivemos que aprender, por exemplo, que "gravar" se diz
>> > "salvar" (to save), no Português 3.1.  (A empresa Corel ainda tentou
>> > enfrentar a onda, e insistiu longamente no "gravar", mas não adiantou
>> > muito.)  Distanciando-me do estritamente informático, já estou quase
>> > me acostumando, também, com o fato de que o meu GPS quando ligado fica
>> > "adquirindo satélites" (to acquire)...  Sem contar aqueles barbarismos
>> > (no sentido linguístico da palavra) dos brasileiros que ficaram muito
>> > tempo fora do país, e que acabam dizendo (em "portanglês") que vão
>> > "aplicar" para uma certa universidade, ou outras coisas do gênero.  A
>> > gente vai acrioulando a nossa língua, é natural.  Longe de mim lutar
>> > contra um princípio evolutivo ("liberal"?) tão básico.
>> >
>> > Por sorte, no caso que aqui nos interessa, os termos "prova" e
>> > "demonstração" estão ambos aí, dando sopa na nossa língua.  E um deles
>> > parece _mais adequado_ do que o outro, pelos motivos já apresentados,
>> > para descrever em Bom Português o objeto de estudo principal da
>> > Beweistheorie (que nasceu em Bom Alemão).
>> >
>> > Não obstante, vale insistir que os cientistas têm mesmo o poder (e de
>> > certa forma, também o dever) de _decidir coisas_ nas suas áreas, e em
>> > particular eles *deveriam zelar* pelo estabelecimento de uma
>> > ^terminologia sã^, nas suas línguas nativas.  Devagar e sem forçar ---
>> > e sem vandalizar a Wikipédia, por exemplo.  Basta querer! (estando
>> > primeiro convencidos de que se trata de uma tarefa importante, claro)
>> >
>> > Ah, e como há pouquíssima gente fazendo o que nós fazemos (Ciência, e
>> > um tipo muito particular de Ciência, e às vezes apenas trabalhando em
>> > uma sub-sub-área muito específica deste tipo particular de Ciência),
>> > bastaria mudar o hábito linguístico de algumas poucas, muito poucas,
>> > "autoridades", e ---zás-trás--- estabeleceríamos juntos uma nova
>> > prática linguística em dois tempos!  (Por acreditar neste tipo de
>> > fantasia é que eu acho que vale a pena gastar tempo discutindo estas
>> > coisas aqui.)  Que pena que a maior parte dos cientistas, contudo,
>> > prefira se furtar à responsabilidade que têm, queiram ou não, sobre
>> > esta realidade, e se alhear a este tipo tão saudável de debate!
>> >
>> >
>> > (2) O argumento da eufonia (do tipo "sempre usei a palavra 'prova',
>> > que me soa bem, e não é agora que eu vou conseguir mudar este hábito")
>> > me parece particularmente fraco.  Se nos convencermos de que uma
>> > mudança terminológica é bem justificada e bem-vinda, sem dúvida
>> > faremos o _esforço_ necessário, paulatinamente, para estabelecê-la!
>> > Testemunhem por exemplo o esforço que os biólogos evolucionistas tem
>> > que fazer, cotidianamente, para se livrar do hábito linguístico
>> > teleológico ---mais uma má contribuição histórica da
>> > filosofia/teologia--- ao tratar das funções dos órgãos e organismos...
>> >
>> > Digo mais.  Se eu for usar apenas as palavras que me soam bem, vou
>> > transformar metade da língua brasileira em "xodó", "cangote",
>> > "cafuné", "pipoca" ou "bunda", e torná-la por conseguinte bastante
>> > estrangeira no resto do mundo lusófono.  De fato, estas são palavras
>> > que me soam muitíssimo bem, e têm para mim conotações extremamente
>> > positivas.  Digo-as com imenso prazer.  Infelizmente, elas são quase
>> > sempre inadequadas como substitutas dos termos técnicos que eu preciso
>> > usar na minha prática profissional...
>> >
>> >
>> > (3) Não sei de onde exatamente teria saído a tal distinção entre
>> > "demonstration" (que segundo vocês significaria "demonstração com
>> > premissas") e "proof" (que significaria "demonstração sem premissas").
>> >  Não me parece de forma alguma consolidada na área, certamente não em
>> > inglês...  Em particular, não me surpreenderia receber (de novo, pois
>> > de fato já aconteceu comigo) um teorema corrigido por um parecerista
>> > anglófono, e que de maneira tão tipicamente anglófona protestasse
>> > contra um termo latino _tão complicado e desnecessário_ como
>> > "demonstration" e indicasse:
>> >> technically, this is called "proof", my friend!
>> > Em inglês, justamente de forma *oposta* ao que ocorre nas línguas
>> > latinas, e na nossa língua em particular, "demonstration" é usado com
>> > muito mais frequência justamente para a "apresentação de evidências",
>> > por exemplo, em um tribunal...  Mais um sinal, aliás, de que o termo
>> > "prova" é uma má escolha, em português, quando o assunto matemática, e
>> > principalmente lógica!
>> >
>> > Agora, mesmo que eu não discordasse do que foi dito sobre a prática
>> > linguística da linguagem anglo-matemática (what the h*** do I know
>> > about it?), o argumento que foi apresentado sobre "demonstration"
>> > consistindo em um "demonstração com premissas" ---da qual o caso sem
>> > premissas ("proof") é obviamente um caso particular--- só parece
>> > trazer _reforço_ à proposta de que "Proof Theory" é a teoria que
>> > estuda justamente os primeiros objetos, mais gerais, que vocês mesmos
>> > preferem chamar "demonstrations", e eu proponho chamar
>> > "demonstrações"...
>> >
>> >
>> > (4) Por fim, insisto que não propus "abandonarmos a palavra prova" ou
>> > o seu uso (seja lá qual seja) em ciências formais.  Só o que eu disse
>> > é que no discreto ramo da lógica contemporânea conhecido como *Teoria
>> > das Demonstrações* (que os matemáticos praticantes em geral ignoram
>> > por completo, e da qual poucos sequer ouviram falar, e que certamente
>> > ainda conta com pouquíssimas publicações realmente representativas na
>> > nossa língua) precisamos de termos técnicos precisos e cuidadosamente
>> > projetados/escolhidos, pois as "demonstrações", as proposições
>> > "demonstráveis" e a própria noção de "demonstrabilidade" são seus
>> > _objetos de estudo_!  Eu em particular costumo dizer que
>> > "demonstrações" são coisas muito amplas, e ensino meus alunos a
>> > construir "derivações" em "sistemas formais" precisos, com
>> > "formalismos dedutivos" escolhidos a dedo.  Sim, e ao menos durante o
>> > semestre em que eles estudam comigo ficam proibidos de usar a palavra
>> > "prova" para outra coisa que não a "avaliação" na qual eles precisam
>> > provar que aprenderam alguma coisa! ];-b  Pior ainda: conforme
>> > constatei recentemente, estes mesmos alunos saem das minhas aulas e
>> > levam para casa o hábito de usar esta terminologia, e acham realmente
>> > esquisito falar em "provas matemáticas"...  Que estrago!
>> >
>> > Não quero passar a impressão errada.  O problema geral de *escolher
>> > uma boa terminologia*, obviamente, também aparece em Inglês
>> > Internacional, a atual língua franca da Ciência.  Na área da Teoria
>> > das Demonstrações, aprecio bastante, em particular, as escolhas feitas
>> > pelo pessoal da "inferência profunda", que deixam claro por exemplo a
>> > diferença entre _metodologias_, _formalismos_, _sistemas dedutivos_ e
>> > _lógicas_ (http://alessio.guglielmi.name/res/cos/index.html)  É mesmo
>> > uma pena que na realidade que temos hoje ^percamos na tradução^ boa
>> > parte desta sofisticação conceitual, por mera falta de cuidado ou
>> > preguiça mental...
>> >
>> > % % %
>> >
>> > No começo do século XX, muitos textos chamavam "logística" o que nós
>> > hoje não hesitamos em chamar "lógica".  Leiam Couturat, leiam
>> > Poincaré...  Quem ainda usaria tal terminologia, hoje em dia?
>> >
>> > Não faz muito tempo, na nossa área, as pessoas se digladiaram para
>> > decidir como ficaria o nome em inglês do objeto de estudo da
>> > revolucionária *Mengenlehre*.  De Cantor a Von Neumann, a literatura
>> > da época se escrevia majoritariamente em Bom Alemão.  Em inglês a
>> > palavra "collection" parecia demasiado geral para traduzir Menge, a
>> > palavra "multiplicidade" parecia inadequada, as palavras "kind" e
>> > "sort" pareciam contaminadas de significado filosófico indesejável, a
>> > história do termo "class" foi bastante complexa e seu uso moderno
>> > parecia não estar muito de acordo com o uso consagrado que a palavra
>> > recebia na literatura escolástica latina, e por algum tempo a palavra
>> > "aggregate" esteve ganhando por uma cabeça de vantagem.  É ela que
>> > aparece, por exemplo, na tradução que Jourdain publicou do texto de
>> > Cantor em 1915.  Sabemos hoje que "set" foi a terminologia vitoriosa,
>> > por algum motivo ou por outro.  Mas aparentemente não se encontram
>> > "sets" no Principia Mathematica de Russell & Whitehead, ou mesmo nos
>> > escritos lógico-históricos de Prior, de 1949, ou no Methods of Logic
>> > de Quine, de 1950 (http://www.logicmuseum.com/cantor/Classes.htm).
>> > Com a massa crítica relativamente recente de literatura anglófona
>> > sobre o assunto, contudo, a terminologia finalmente foi clarificada e
>> > fixada.  (Curiosamente, a palavra "set" parece ter sido originalmente
>> > importada para o inglês a partir de uma palavra francesa/franca
>> > antiga, "sette" --- ou pelo menos li isso em um texto do Roger Jones.)
>> >
>> > A nossa massa crítica em português é infelizmente reduzida, e
>> > aparentemente composta de pesquisadores que antes preferem decretar a
>> > "morte" da discussão do que levar seriamente em consideração a opinião
>> > de seu oponente.  E certamente há pouca concordância (e por que
>> > deveria haver concordância universal sobre o que quer que seja?).  Por
>> > exemplo, o mesmo termo "truth-functional" que alguns chamam
>> > "verofuncional" outros chamam "funcional-veritativo", o mesmo
>> > "soundness" que aparece como "correção" outras vezes aparece como
>> > "corretude", und so weiter.  Haverá escolhas melhores do que outras,
>> > nestes casos?  Parece que um dia perguntaram ao Gödel, quando ele
>> > tinha acabado de se mudar para os EUA, como ele traduziria o resultado
>> > do seu "Unvollständigkeitssatz", e ele sugeriu "incompleteness".  A
>> > força da autoridade somada à força do hábito fez seu estrago, e até
>> > hoje tratamos por "teoremas de incompletude" aqueles teoremas que
>> > demonstram na verdade uma coisa muito mais geral, a saber a
>> > *incompletabilidade* de teorias aritméticas!
>> >
>> > É notável como muitas vezes aquilo que se traveste como uma questão de
>> > mera _estipulação_ na verdade esconde antes de mais nada um trabalho
>> > de ^esclarecimento conceitual^ --- e que por isso mesmo já me
>> > pareceria importante.  Talvez ainda permaneçamos alguns séculos
>> > discutindo como traduzir _bem_ "Sinn" e "Bedeutung", ou "proof",
>> > talvez por um bom motivo, talvez por pura teimosia.  Talvez a
>> > discussão sobre o assunto que levantei aqui morra aqui mesmo.  Na
>> > presente troca de mensagens, por exemplo, os especialistas que se
>> > manifestaram em geral se mostraram reticentes ou extremamente
>> > conservadores, e poucos outros participantes da lista de fato se deram
>> > ao trabalho de opinar.  Poucos _argumentos_ mais decisivos parecem ter
>> > sido apresentados, ao final, até onde pude perceber.
>> >
>> > % % %
>> >
>> > O tema geral aqui é o estabelecimento de uma terminologia decente
>> > ("decente" em um sentido técnico bastante preciso) *em português*.
>> > Este é sem dúvida um problema que nunca precisamos enfrentar quando
>> > escrevemos a maior parte dos nossos papers (nossos papéis?) em inglês,
>> > ou quando vivemos fora do mundo lusófono...  Mas é um tema bastante
>> > presente, no entanto, e de fato _premente_, na vida de pessoas (como
>> > eu!) que se metem a traduzir longos textos técnicos para português ou
>> > mesmo produzir material original e escrever manuais de Lógica para
>> > fruição do público brasileiro e português.
>> >
>> > Com relação ao que podemos fazer para ajudarmos os nossos alunos a não
>> > se perderem na selva de terminologias ---e notações--- da literatura,
>> > creio que o mais racional seria simplesmente tentar mencionar para
>> > eles aquelas que são mais difundidas ou importantes, seja na
>> > literatura estrangeira seja naquela mais local (vá um aluno tentar
>> > adivinhar que a tradução para "correção" é "soundness", ou tentar
>> > entender a notação padrão para substituição, A[t/x], que só faz
>> > sentido na cabeça de quem nasceu e cresceu pensando em inglês).
>> >
>> > Finalmente, no que diz respeito à nossa inépcia linguística geral e ao
>> > nosso trogloditismo, não me parece, infelizmente, que ela esteja
>> > circunscrita ao mundo da Ciência ---haja vista os exemplos que ofereci
>> > no ponto (1) acima.  Usa-se muito mal a língua, pra todo lado, e a
>> > justificativa de que "escrevemos os nossos artigos em inglês" não
>> > explica o fenômeno generalizado.  No entanto, parece-me muito mais
>> > grave o fenômeno no caso dos cientistas que não acreditam ser
>> > necessário "dar o bom exemplo".
>> >
>> > Vamos então continuar fazendo ao menos a nossa parte.  E tentando
>> > angariar adeptos para a Revolução. :-)
>> >
>> > Abraços demonstrados,
>> > Joao Marcos
>> >
>> >
>> > [*] Os dicionários de português que consultei dizem que o termo
>> > "instância", no significado aqui empregado, é um neologismo
>> > informático --- sem dúvida um neologismo _necessário_, vocês não
>> > concordam?
>> >
>> > PS: Agradeço em particular a Valeria e Elaine, queridas amigas de quem
>> > *dis*cordo "em gênero, número e grau", por se disporem a trazer para a
>> > lista um tema que já discutimos no passado em privado, separadamente,
>> > tornando desta vez públicos os seus sentimentos a respeito destas
>> > coisas.  E a Andrea agradeço o cuidado erudito de quem já gastou
>> > fosfato escolhendo terminologia a usar em competentes traduções
>> > publicadas na língua brasileira!
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