Oi João:

Talvez valha a pena elaborar mais o ponto da minha primeira mensagem. 
Entendo que você está abordando o ensino de lógica e entendo também que a 
didática atende a critérios próprios de relevância. Contudo, a sua questão 
me parecia ambígua porque a instrução sobre um dado conceito envolve duas 
coisas:

   1. Ensino das *consequências* da operação com o conceito.
   2. Ensino dos *pressupostos* da operação com o conceito.

Me parece que você está interessado na questão induzida por 1: uma 
abordagem historicamente informada pode ser vantajosa para ensinar os 
estudantes a melhor aplicar certos conceitos lógicos? A questão me parece 
relevante, embora não possa ajudar a respondê-la.

No entanto, uma segunda questão induzida por 2 pode ser formulada: uma 
abordagem historicamente informada pode ser vantajosa para ensinar os 
estudantes a melhor entender os pressupostos de aplicação de certos 
conceitos lógicos? Aqui, me parece que a resposta é afirmativa. Em primeiro 
lugar, a história da lógica pode nos informar sobre os pressupostos 
pragmáticos da elaboração conceitual na medida em que apresenta as questões 
previamente postas em resposta as quais o conceito foi formulado. Em 
segundo lugar, a história da lógica pode apresentar as razões que 
justificam a introdução do conceito lógico. A teoria de conjuntos apresenta 
novamente um bom exemplo disso: é difícil entender porque ZFC ao invés de 
outra axiomática sem olhar para o contexto histórico, os paradoxos, a 
rigorização das teorias matemáticas e por aí vai -- ainda que a exposição 
histórica possa não nos ajudar a provas resultados nessa axiomática.

Abraços
Bruno


Em segunda-feira, 25 de janeiro de 2021 às 09:47:29 UTC-3, Joao Marcos 
escreveu:

> > PS: Eu já falei disso aqui antes, mas não consigo deixar de me lembrar
> > do primeiro curso que fiz de Lógica na graduação em Filosofia, há
> > quase trinta anos, na UFMG, em que o professor passou o semestre todo
> > falando de silogismos e não apresentou nada que seja hoje útil para
> > mim ao trabalhar, digamos, sobre Lógica de Primeira Ordem. Eu não
> > apenas não aprendi a demonstrar nada, mas sequer ouvi falar na
> > existência dos metateoremas de correção e de completude!
>
> O dito professor, a propósito, era extremamente sedutor, muito
> admirado pelos alunos, e foi uma figura bem conhecida na filosofia
> brasileira. Mas realmente não me ensinou praticamente nada, e eu ter
> escolhido a Lógica como área de estudos se deu mais _a despeito_ do
> que _por causa_ das aulas dele...
>
> JM
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