Sim. Esses problemas existem. Agora, salvo engano da minha parte, na França 
vários desses problemas no ensino da Matemática mesmo tinham sido já apontados, 
como:

1. Formação de hábitos priorizada muito acima da formação de conceitos;

2. Apresentação de ”contonas” para resolver, ou seja, mania de colocar 
expressões com inúmeros colchetes, parênteses e chaves, exigindo resoluções 
quilométricas;

3. Pegadinhas bobas para despistar o aluno da resposta certa;

4. Deixar as demonstrações mais difíceis do texto-base como exercício para os 
alunos iniciantes fazerem, ou apresentar en passant a parte mais importante do 
tópico;

5. Ocultar a história da origem do conceito e só dar a síntese, sem explicar as 
aplicações já conhecidas.

Tudo isto já se discutiu na França há muitas décadas antes de qualquer um de 
nós ter nascido. A essas críticas acrescento mais uma que é típica do nosso 
terceiro-mundismo:

6. Propagar o dogma que a Matemática  é uma questão de “dom artístico” para os 
números, como se fosse algo puramente intuitivo e não uma construção racional.

> On 2 Dec 2019, at 12:28, Cassiano Terra Rodrigues <cassiano.te...@gmail.com> 
> wrote:
> 
> 
> Colegas, 
> 
> meus menos de 2%.
> 
> Marcos: qual é o conceito de inferência de RBrandom? Não me parece q ele 
> tenha um conceito de inferência claro o bastante, acho q ele confunde muitas 
> coisas e em geral a leitura q ele faz do pragmatismo e como ele se entende 
> (neo)pragmatista me parecem ambas as coisas muito ruins, redutivistas, eu 
> diria. O inferencialismo na tradição pragmatista é tampouco simples, a linha 
> q sai de Peirce e passa por Ramsey e Lewis não é dominante e a influência 
> posterior de Dewey é muito diferente  (é claro q não conseguirei provar nada 
> isso nesse email, só uma provocação pra saber o q vc pensa. O artigo q vc 
> citou tb critica o conceito de inferência de Brandom). 
> 
> Tony e JM, eu tendo a concordar com os dois, em parte. O meu curso de lógica 
> na graduação, nunca entendi pq, foi *horroroso*. Tentei fazer com 3 profs 
> diferentes, e foram todos, digamos, *pra ficar pelo menos ruim tinha q 
> melhorar muito*. Acho q isso aconteceu por total falta de adequação aos 
> interesses do curso e aos conhecimentos discentes, de uma forma bastante 
> anti-pragmatista, aproveitando a discussão. Lembro q um prof se recusava a 
> mencionar qualquer coisa relativa à história ou filosofia da lógica dizendo q 
> lógica é matemática, "o resto é desprezível para o lógico" (minha graduação 
> foi em filosofia), e tb "vcs são analfabetos simbólicos, precisam correr 
> atrás, não sou professor de primário." Então, desse exemplo da minha 
> experiência, eu infiro o seguinte: dar um curso de lógica para a graduação em 
> filosofia como se fosse para a matemática é um erro similar a q filósofos 
> cometeriam se fossem dar aula de analítica aristotélica para graduandos em 
> matemática com a pretensão de elucidar aos matemáticos a essência e os 
> fundamentos do raciocínio lógico. Outra coisa é atitude antipedagógica do 
> professor, correlata ao erro, mas não necessariamente precisa acompanhar esse 
> erro, o qual pode vir de uma falta de compreensão de outras ordens quaisquer. 
> 
> Um abraço, cass.
> 
> 
> 
> 
>> On Saturday, November 30, 2019 at 12:02:14 PM UTC-3, marmo.tony wrote:
>> Caro Marcos,
>> 
>> Essas são boas referências. De fato, a Catarina Dutilh escava muito chão e 
>> encontra b
>> vários “tesouros arqueológicos”. Mas, sobre o papel do Brandom na lógica 
>> recente não posso comentar muita coisa, porque eu não sei que alcance, ou 
>> seja, que grau de influência teve ele desde os anos 1990. Olhar 
>> historicamente para fatos mais distantes é mais fácil. 
>> 
>> Sei que houve um período da lógica em que vários desenvolvimentos dos 
>> acadêmicos medievais foram postos de lado. Atualmente, estamos “recuperando” 
>> muito do que numa época ficou, digamos assim, “fora de moda”. Mas, não só há 
>> a redescoberta desses autores europeus de antes de Port-Royal: desde o 
>> século XIX há ocidentais pesquisando a lógica hindu e a chinesa, além da 
>> árabe. 
>> 
>> O quanto dessa redescoberta que está sendo objeto de pesquisa vai verter 
>> para o ensino introdutório de lógica nas faculdades, vai depender dos 
>> professores acharem isto didaticamente útil.
>> 
>> E há muitas escolas lógicas na atualidade, vamos confessar. À primeira vista 
>> pode parecer que não, mas uma pesquisa mais ampla acaba encontrando os mais 
>> diversos grupos, de cuja existência a gente nem suspeitava. Fica muito 
>> difícil acompanhar notícias sobre todas essas “correntes contemporâneas”.
>> 
>>> 
>>>> On 30 Nov 2019, at 07:31, Marcos Silva <marcos...@gmail.com> wrote:
>>>> 
>>> 
>>> ola, Tony,
>>> 
>>> sobre este ponto em específico...
>>> 
>>>>   Na Europa durante a Idade Média, uma das componentes da Lógica era a 
>>>> teoria das “obrigações”, que, ao contrário do que o nome sugere, nada 
>>>> tinha com os silogismos modais deônticos. Eram as obrigações que alguém 
>>>> assumia quando se propunha a sustentar uma tese, ou opor-se à mesma. Esse 
>>>> ramo de estudos está quase esquecido.
>>> 
>>> .... meus dois centavos...
>>> 
>>> independente da tradicão medieval, eu acho que a assim chamada escola de 
>>> pittsburgh tem importantes contribuicoes para isto que voce chamou de "ramo 
>>> esquecido".
>>> 
>>> Os neo-pragmatistas de Pittsburgh não vao abordar este problema em termos 
>>> de obrigações, mas em termos de compromissos. 
>>> 
>>> Inclusive, nesta abordagem, ha uma (filosoficamente) relevante revisao da 
>>> relação de consequencia logica em termos de preservação de compromissos e 
>>> não em termos de preservação de verdade.
>>> 
>>> a meu ver, nao podemos negligenciar, por exemplo, neste contexto, o tipo de 
>>> inferencialismo pragmatista introduzido no "making it explicit" (1994) do 
>>> Brandom.
>>> 
>>> alem disso, provavelmente, voce ja conhece este artigo da Catarina Novaes 
>>> discutindo esta tematica de obrigacoes/compromissos marcando algumas 
>>> diferencas com a tradição medieval:
>>>  “A contentious trinity: levels of entailment in Brandom's pragmatist 
>>> inferentialism”. Philosophia 40(1), 41-53, 2012.  
>>> 
>>> abraços,
>>> Marcos
>>> 
>>>> On Fri, Nov 29, 2019 at 1:45 AM Antonio Marmo <marm...@gmail.com> wrote:
>>>> Na Europa durante a Idade Média, uma das componentes da Lógica era a 
>>>> teoria das “obrigações”, que, ao contrário do que o nome sugere, nada 
>>>> tinha com os silogismos modais deônticos. Eram as obrigações que alguém 
>>>> assumia quando se propunha a sustentar uma tese, ou opor-se à mesma. Esse 
>>>> ramo de estudos está quase esquecido.
>>>> 
>>>> Isto dito, a corrente irracionalidade destes dias que flui pelas redes 
>>>> sociais em nada se deve a mudanças nos estudos lógicos. Não passam de 
>>>> técnicas rasteiras de propaganda enganosa e de coação psicológica. Muitos 
>>>> desses comentários, os mais medíocres por sinal, não são nem obra de 
>>>> humanos, mas apenas programas que “os disparam”. Certamente, por detrás de 
>>>> vários deles há assessorias de poderosos interessados ou em desinformar o 
>>>> público ou em inibir a contestação.
>>>> 
>>>> Exemplo disto é uma situação típica: um ser humano escreve “morreu uma 
>>>> criança de meningite num hospital no DF” e um robô responde algo 
>>>> totalmente sem conexão como: “o chefe dos ladrões está preso, seu babaca!” 
>>>> E por aí vai. 
>>>> 
>>>> De forma que a “irracionalidade pós-verdade” não será nada além de mera 
>>>> disputa por poder. Definir o que são “boas razões” dá muito material para 
>>>> reflexão, mas não estanca essa sangria.
>>>> 
>>>> Most problems of teaching are not problems of growth but helping cultivate 
>>>> growth. As far as I know, and this is only from personal experience in 
>>>> teaching, I think about ninety percent of the problem in teaching, or 
>>>> maybe ninety-eight percent, is just to help the students get interested. 
>>>> Noam Chomsky 
>>>> 
>>>>>> On 29 Nov 2019, at 00:08, Cassiano Terra Rodrigues <cassia...@gmail.com> 
>>>>>> wrote:
>>>>>> 
>>>>> olâ camaradas, abri o computador e dei de cara com uma entrevista do meu 
>>>>> amigo e antigo professor Walter Carnielli. Entrou na retrospectiva do 
>>>>> veículo Nexo.
>>>>> Envio aqui a quem interessar possa:
>>>>> https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/12/27/Por-que-%E2%80%98opini%C3%A3o-n%C3%A3o-%C3%A9-argumento%E2%80%99-segundo-este-professor-de-l%C3%B3gica-da-Unicamp
>>>>> 
>>>>> E agora pergunto, o q são boas razões? gostaria de ouvir o q têm a dizer 
>>>>> a respeito, em tempos de irracionalidade pós-verdadeirística.
>>>>> Saudações, 
>>>>> Cass. 
>>>>> 
>>>>> -- 
>>>>> Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" 
>>>>> dos Grupos do Google.
>>>>> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, 
>>>>> envie um e-mail para logi...@dimap.ufrn.br.
>>>>> Para ver esta discussão na web, acesse 
>>>>> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/ef763dc9-9276-4ce6-aa8e-9eb2485930db%40dimap.ufrn.br.
>>>> 
>>>> -- 
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>>>> Grupos do Google.
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>>>> Para ver essa discussão na Web, acesse 
>>>> https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/7ECB34B5-7498-487D-9F63-DCC8E618256D%40gmail.com.
>>> 
>>> 
>>> -- 
>>> Marcos Silva
>>> Philosophie macht Spaß!
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> Para ver essa discussão na Web, acesse 
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