Colegas, 

meus menos de 2%.

Marcos: qual é o conceito de inferência de RBrandom? Não me parece q ele 
tenha um conceito de inferência claro o bastante, acho q ele confunde 
muitas coisas e em geral a leitura q ele faz do pragmatismo e como ele se 
entende (neo)pragmatista me parecem ambas as coisas muito ruins, 
redutivistas, eu diria. O inferencialismo na tradição pragmatista é 
tampouco simples, a linha q sai de Peirce e passa por Ramsey e Lewis não é 
dominante e a influência posterior de Dewey é muito diferente  (é claro q 
não conseguirei provar nada isso nesse email, só uma provocação pra saber o 
q vc pensa. O artigo q vc citou tb critica o conceito de inferência de 
Brandom). 

Tony e JM, eu tendo a concordar com os dois, em parte. O meu curso de 
lógica na graduação, nunca entendi pq, foi *horroroso*. Tentei fazer com 3 
profs diferentes, e foram todos, digamos, *pra ficar pelo menos ruim tinha 
q melhorar muito*. Acho q isso aconteceu por total falta de adequação aos 
interesses do curso e aos conhecimentos discentes, de uma forma bastante 
anti-pragmatista, aproveitando a discussão. Lembro q um prof se recusava a 
mencionar qualquer coisa relativa à história ou filosofia da lógica dizendo 
q lógica é matemática, "o resto é desprezível para o lógico" (minha 
graduação foi em filosofia), e tb "vcs são analfabetos simbólicos, precisam 
correr atrás, não sou professor de primário." Então, desse exemplo da minha 
experiência, eu infiro o seguinte: dar um curso de lógica para a graduação 
em filosofia como se fosse para a matemática é um erro similar a q 
filósofos cometeriam se fossem dar aula de analítica aristotélica para 
graduandos em matemática com a pretensão de elucidar aos matemáticos a 
essência e os fundamentos do raciocínio lógico. Outra coisa é atitude 
antipedagógica do professor, correlata ao erro, mas não necessariamente 
precisa acompanhar esse erro, o qual pode vir de uma falta de compreensão 
de outras ordens quaisquer. 

Um abraço, cass.




On Saturday, November 30, 2019 at 12:02:14 PM UTC-3, marmo.tony wrote:
>
> Caro Marcos,
>
> Essas são boas referências. De fato, a Catarina Dutilh escava muito chão e 
> encontra b
> vários “tesouros arqueológicos”. Mas, sobre o papel do Brandom na lógica 
> recente não posso comentar muita coisa, porque eu não sei que alcance, ou 
> seja, que grau de influência teve ele desde os anos 1990. Olhar 
> historicamente para fatos mais distantes é mais fácil. 
>
> Sei que houve um período da lógica em que vários desenvolvimentos dos 
> acadêmicos medievais foram postos de lado. Atualmente, estamos 
> “recuperando” muito do que numa época ficou, digamos assim, “fora de moda”. 
> Mas, não só há a redescoberta desses autores europeus de antes de 
> Port-Royal: desde o século XIX há ocidentais pesquisando a lógica hindu e a 
> chinesa, além da árabe. 
>
> O quanto dessa redescoberta que está sendo objeto de pesquisa vai verter 
> para o ensino introdutório de lógica nas faculdades, vai depender dos 
> professores acharem isto didaticamente útil.
>
> E há muitas escolas lógicas na atualidade, vamos confessar. À primeira 
> vista pode parecer que não, mas uma pesquisa mais ampla acaba encontrando 
> os mais diversos grupos, de cuja existência a gente nem suspeitava. Fica 
> muito difícil acompanhar notícias sobre todas essas “correntes 
> contemporâneas”.
>
>
> On 30 Nov 2019, at 07:31, Marcos Silva <marcos...@gmail.com <javascript:>> 
> wrote:
>
> 
> ola, Tony,
>
> sobre este ponto em específico...
>
>   Na Europa durante a Idade Média, uma das componentes da Lógica era a 
>> teoria das “obrigações”, que, ao contrário do que o nome sugere, nada tinha 
>> com os silogismos modais deônticos. Eram as obrigações que alguém assumia 
>> quando se propunha a sustentar uma tese, ou opor-se à mesma. Esse ramo de 
>> estudos está quase esquecido.
>
>
> .... meus dois centavos...
>
> independente da tradicão medieval, eu acho que a assim chamada escola de 
> pittsburgh tem importantes contribuicoes para isto que voce chamou de "ramo 
> esquecido".
>
> Os neo-pragmatistas de Pittsburgh não vao abordar este problema em termos 
> de obrigações, mas em termos de compromissos. 
>
> Inclusive, nesta abordagem, ha uma (filosoficamente) relevante revisao da 
> relação de consequencia logica em termos de preservação de compromissos e 
> não em termos de preservação de verdade.
>
> a meu ver, nao podemos negligenciar, por exemplo, neste contexto, o tipo 
> de inferencialismo pragmatista introduzido no "making it explicit" (1994) 
> do Brandom.
>
> alem disso, provavelmente, voce ja conhece este artigo da Catarina Novaes 
> discutindo esta tematica de obrigacoes/compromissos marcando algumas 
> diferencas com a tradição medieval:
>  “A contentious trinity: levels of entailment in Brandom's pragmatist 
> inferentialism”. *Philosophia *40(1), 41-53, 2012.  
>
> abraços,
> Marcos
>
> On Fri, Nov 29, 2019 at 1:45 AM Antonio Marmo <marm...@gmail.com 
> <javascript:>> wrote:
>
>> Na Europa durante a Idade Média, uma das componentes da Lógica era a 
>> teoria das “obrigações”, que, ao contrário do que o nome sugere, nada tinha 
>> com os silogismos modais deônticos. Eram as obrigações que alguém assumia 
>> quando se propunha a sustentar uma tese, ou opor-se à mesma. Esse ramo de 
>> estudos está quase esquecido.
>>
>> Isto dito, a corrente irracionalidade destes dias que flui pelas redes 
>> sociais em nada se deve a mudanças nos estudos lógicos. Não passam de 
>> técnicas rasteiras de propaganda enganosa e de coação psicológica. Muitos 
>> desses comentários, os mais medíocres por sinal, não são nem obra de 
>> humanos, mas apenas programas que “os disparam”. Certamente, por detrás de 
>> vários deles há assessorias de poderosos interessados ou em desinformar o 
>> público ou em inibir a contestação.
>>
>> Exemplo disto é uma situação típica: um ser humano escreve “morreu uma 
>> criança de meningite num hospital no DF” e um robô responde algo totalmente 
>> sem conexão como: “o chefe dos ladrões está preso, seu babaca!” E por aí 
>> vai. 
>>
>> De forma que a “irracionalidade pós-verdade” não será nada além de mera 
>> disputa por poder. Definir o que são “boas razões” dá muito material para 
>> reflexão, mas não estanca essa sangria.
>>
>> *Most problems of teaching are not problems of growth but helping 
>> cultivate growth. As far as I know, and this is only from personal 
>> experience in teaching, I think about ninety percent of the problem in 
>> teaching, or maybe ninety-eight percent, is just to help the students get 
>> interested. *
>> Noam Chomsky 
>>
>> On 29 Nov 2019, at 00:08, Cassiano Terra Rodrigues <cassia...@gmail.com 
>> <javascript:>> wrote:
>>
>> olâ camaradas, abri o computador e dei de cara com uma entrevista do 
>> meu amigo e antigo professor Walter Carnielli. Entrou na retrospectiva do 
>> veículo Nexo.
>> Envio aqui a quem interessar possa:
>>
>> https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/12/27/Por-que-%E2%80%98opini%C3%A3o-n%C3%A3o-%C3%A9-argumento%E2%80%99-segundo-este-professor-de-l%C3%B3gica-da-Unicamp
>>
>> E agora pergunto, o q são boas razões? gostaria de ouvir o q têm a dizer 
>> a respeito, em tempos de irracionalidade pós-verdadeirística.
>> Saudações, 
>> Cass. 
>>
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>> dos Grupos do Google.
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>> .
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>> <https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/7ECB34B5-7498-487D-9F63-DCC8E618256D%40gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer>
>> .
>>
>
>
> -- 
> Marcos Silva
> Philosophie macht Spaß! <https://sites.google.com/view/marcossilvarj/home>
>
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