De uma mensagem recente enviada à lista:

> Na estrutura gramatical superficial, cientistas e juristas podem usar as
> mesmas palavras quando estão designando conceitos *muito* diferentes.
[...]
> Há discussões muito finas do significado bastante delicado de
> "prova" em matemática e lógica.

"Provas" em matemática ou lógica são quando muito um nome que damos
àqueles "testes" / "exames" / "avaliações" aos quais submetemos os
nossos alunos...  Um exemplo é a promessa: "esta semana vocês farão
uma prova surpresa!"

Em matemática ou lógica o termo "proof" NÃO se traduz como "prova" a
menos que estejamos dispostos a cometer um idiotismo (no sentido
linguístico do termo) insustentável.  O que apresentamos para
_justificar_ os nossos teoremas / conjecturas ou inferências em
matemática ou lógica (com alguma sorte e competência) são
**demonstrações** (e até o babel "portuges" do LaTeX sabe disso ---
experimente compilar um \begin{proof}).

Nas línguas latinas "demonstratio" se traduz como "démonstration"
(fr), "demostración" (es), "dimostrazione" (it), "demonstraţie" (ro),
"demostració" (ca), et coetera.  Da mesma forma, em português a _boa_
tradução para este termo é o vocábulo "demonstração".

É natural, assim, que "Proof Theory" se traduza de maneira castiça
como "Théorie de la Démonstration", "Teoría de la Demostración",
"Teoria della Dimostrazione", e assim por diante (com o "theoria"
herdado do grego).  De maneira semelhante, imbuídos por uma
preocupação mínima em não cometer graves atentados contra a nossa
língua, deveríamos traduzir "Proof Theory" como "Teoria da
Demonstração" ou, melhor ainda, como "Teoria das Demonstrações" (em
analogia a "Set Theory" = "Teoria dos Conjuntos", "Model Theory" =
"Teoria dos Modelos").

Cometem um desserviço ao português e de certa forma até mesmo uma
leviandade no que diz respeito ao estabelecimento de uma terminologia
científica coerente no campo da lusofonia, sob o ponto de vista aqui
ilustrado, os "proof-theorists" que falam em "provas" e "Teoria da
Prova" --- teoria esta cujo objeto principal de estudo é a noção
formal de "derivação". :-)

A coisa fica ainda mais esquisita, vale insistir, quando a turma das
"provas" se empenha a tratar e estudar a própria noção / predicado de
"provabilidade" --- neologismo que representaria, é de se supor, uma
propriedade de proposições "prováveis" (?).  É de desorientar qualquer
um...  Tudo ficaria mais simples e reto, claro, se a terminologia
adequada envolvendo a "demonstrabilidade" de proposições
"demonstráveis" fosse uniformemente empregada!

Ou pelos menos é essa a minha opinião --- que me parece apropriada até
prova em contrário. :-D
Joao Marcos


PS: A propósito, o emprego do peculiar termo "teorético" parece
completamente _desnecessário_, em português, quando temos disponível o
termo "teórico" para o mesmo fim.

-- 
http://sequiturquodlibet.googlepages.com/
_______________________________________________
Logica-l mailing list
Logica-l@dimap.ufrn.br
http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l

Responder a