> (Temos colegas, aliás, que tem defendido seriamente >a ideia de que a silogística aristotélica era intuicionista.) Quem, Joao Marcos? Aonde? eu gosto da ideia....
Valeria 2010/8/11 Joao Marcos <botoc...@gmail.com>: > Olá, Julio: > >> Agora você me confundiu de vez. Se aquilo que Frege fez não é >> considerado mais lógica clássica, então estou completamente perdido no >> assunto (como classificam Frege hoje em dia?). Mas, com certeza, se alguém >> me apertar, vou ser obrigado a dizer que, nessa discussão, estou >> considerando como Lógica Clássica qualquer Sistema Formal -ou considerações >> lógicas- que exija pelo menos a Consistência e a Bivalência (sei que isso é >> vago mas, por hora, creio que é suficiente...). Por isso, a meu ver, Frege é >> clássico (tanto que abandonou o logicismo unicamente por causa >> da contradição). > > Justo, mas para ter "medo" de contradições Frege poderia ser > intuicionista... (Temos colegas, aliás, que tem defendido seriamente > a ideia de que a silogística aristotélica era intuicionista.) > > Continuo acreditando que se o seu problema pega mais em baixo, e diz > respeito a *semânticas não-clássicas em geral*, e você deveria se > esforçar portanto a formulá-lo em tal nível. > > * * * > > Uma coisa que confunde muita gente, e excita aqueles que se > entusiasmam pelo "irracional" (no sentido em que este termo trabalhado > no livro homônimo de G.G. Granger), é a convicção espúria de que a > *lógica paraconsistente* tem "preferência" pelas contradições, ou que > até mesmo as busca --- talvez com uma intenção estética, talvez por > puro senso de humor, ou talvez com a intenção de chacrinhar(*) o > mundo. > > Na realidade a coisa é bem mais sutil e bem menos ousada. A proposta > da lógica paraconsistente veio apenas para ajudar a acomodar situações > (tenham elas uma origem ontológica, epistemológica, ou mateológica) em > que precisamos trabalhar, agir e tomar decisões razoáveis *mesmo na > presença* de contradições, isto é, para trabalhar no domínio do > inconsistente mesmo sem aceitar o vale-tudo, sem dar suporte ao > oba-oba geral. Se *todas* as contradições forem de alguma forma > aceitáveis, contudo, deixa de fazer sentido, ou de ser necessária, uma > lógica paraconsistente, pois estamos no domínio da inconsistência dita > absoluta (ou trivialidade), e aí faz pouca diferença o que você faz ou > deixa de fazer, o que diz ou deixa de dizer. A lógica paraconsistente > só tem utilidade enquanto ainda é possível "fazer a diferença", e é > justamente para estender o domínio desta possibilidade que esta lógica > foi proposta. > >> De qualquer forma, acredito que a questão pode sim ser colocada >> em Frege e até em Aristóteles. De fato, ambos não tinham uma semântica >> explícita, mas suas teorias, ao menos, utilizavam uma meta-linguagem >> coerente com a lógica que tentaram estipular. E minha questão original é >> exatamente essa: como rivalizar com a consistência sendo que sua >> meta-linguagem ainda é consistente? >> >> Sobre a Fuzzy, mesmo que seja aquela uma definição derivada de >> um tipo de *função* matemática, essa definição não deixa, por causa >> disso, de depender da bivalência (é verdade que tenha aquele valor >> e falso que seja qualquer outro), e se a Fuzzy depende de tal tipo de >> função, sua polivalência dependeria, em última análise, da bivalência, ao >> menos enquanto meta-linguagem. A questão aqui se desdobra em: >> como rivalizar com a bivalência sendo que sua meta-linguagem ainda é >> bivalente? > > Todos usamos meta-linguagens "coerentes", inclusive os temidos > paraconsistentistas... Agora, a partir do momento em que sequer > formos capazes de saber se o conceito de *função* se aplica ou não a > um certo objeto matemático de interesse, perde de fato o sentido > usá-lo para fins práticos! > > Você pode trabalhar com uma meta-linguagem clássica de ordem superior, > ou algo perto disso, para mais ou para menos. Mas pode também tentar > trabalhar, se realmente tiver um motivo para tanto, em uma > meta-linguagem genuinamente não-clássica. Nem mesmo se este > "não-clássico" significar "paraconsistente", contudo, você poderá > aceitar *todas* as contradições --- sob o risco de se tornar > irrelevante. > >> A meu ver, não há rivalidade em nenhum dos casos. Não estou >> questionando a utilidade, muito menos o rigor, de tais sistemas, mas apenas >> a tentativa de abandonar por completo a consistência ou a bivalência. > > Você tem que avaliar o que quer dizer com este "abandono completo". > Opor-se à validade universal de algo não significa em geral afirmar > universalmente o seu oposto. > >> Sobre a maçã, mesmo num sistema analógico, ou vários sensores >> independentes, como eu reconstruiria por computador a imagem da minha maçã - >> num determinado instante de tempo - simplesmente aceitando contradições nos >> sensores? Alguma hora eu teria que optar pela informação de um ou de outro, >> com o perigo de deixar aquele pedacinho sem cor (ou apelar para uma mistura >> das informações contraditórias, mas não sei como isso seria uma descrição >> mais eficiente da maçã). > > Não entendi onde é que a questão da "eficiência" entra nesta história, > ou o que você quer dizer exatamente com este termo, apesar de tê-lo > usado várias vezes. > >> Poxa, eu concordo plenamente que não é um demérito utilizar >> uma meta-linguagem clássica. O que não entendo é a maneira que muitas vezes >> as lógicas não-clássicas são apresentadas contra a lógica clássica como >> alternativas ou sistemas distintos e completamente (desculpa a expressão) >> *auto-sustentáveis*, sendo que, repetindo, não sei como >> uma meta-linguagem inconsistente poderia sequer estabelecer uma sintaxe em >> sua linguagem-objeto. > > A definição de qualquer _sintaxe_ é feita *antes* da construção do > sistema propriamente dito, seja em Teoria das Demonstrações, seja em > Teoria dos Modelos. > >> Novamente, desculpe qualquer coisa. > > Não precisa se desculpar por nada. Uma das contrapartes "sociais" do > nosso trabalho como cientistas pressupõe o esclarecimento daquilo que > fazemos em termos tão pedestres quanto possível, bem como a > reavaliação das nossas crenças e a defesa dos nossos pontos de vista. > > A batalha é ganha dia-a-dia, mas é infindável. Abraços, > Joao Marcos > > -- > http://sequiturquodlibet.googlepages.com/ > (in absentia, post-doc in cives vindobonensis) > _______________________________________________ > Logica-l mailing list > Logica-l@dimap.ufrn.br > http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l > -- Valeria de Paiva http://www.cs.bham.ac.uk/~vdp/ http://valeriadepaiva.org/www/ _______________________________________________ Logica-l mailing list Logica-l@dimap.ufrn.br http://www.dimap.ufrn.br/cgi-bin/mailman/listinfo/logica-l