Olá, pessoal!
 
            Bem, de fato, posso estar me atrapalhando em algumas coisas. O 
buraco é mais embaixo e mais complexo do que eu imaginava. E acredito que minha 
questão seria melhor colocada se, em vez de dizer "semântica paraconsistente" 
eu 
tivesse dito "meta-linguagem inconsistente".
            No entanto, com o risco de me embananar ainda mais nos conceitos 
(pois acredito que não consegui dizer o que queria), tentarei mostrar porque 
ainda acho que o problema persiste. (coloquei tudo numa única mensagem para não 
encher a lista de mensagens separadas...)
 
 
> Décio Krause
 
            Você não concordaria então que é impossível estabelecer um sistema 
formal qualquer sem utilizar uma meta-linguagem consistente (ainda que seja só 
no primeiro passo)?
 
 
 
> Didimo Matos
 
            Bem, como o Décio falou, eu também nunca topei com uma contradição 
no mundo. Quanto a mim, não vejo metafísica nisso, pelo contrário. Não acredito 
ser possível dizer que o mundo é ou não contraditório sem usar uma linguagem 
que 
o represente, assim, prefiro não entrar no mérito sobre como o mundo seria fora 
de tal representação. Ou seja, a contradição, como qualquer outra lei ou 
princípio lógico, a meu ver, diz respeito apenas sobre nossa linguagem. Não há 
como encontrar alguma contradição no mundo (ou em maçãs), mas apenas em 
nossas teorias sobre o mundo (ou sobre maçãs).
 
> Carolina Blasio:
 
            Se eu precisar de tantos níveis de verdade quanto forem as 
diferenças cromáticas, a complexidade não diminui em nada, sendo assim, por que 
não estabelecer, para cada diferença, um predicado diferente? Sem falar que, 
para um computador, trabalhar complexidades não é difícil. E mesmo que eu 
admitir os infindáveis níveis de verdade, acredito que a questão da bivalência 
ainda se coloca, pois, ainda que eu esteja tratando do enunciado do valor de 
uma 
fórmula (e é justamente esse o problema), eu só consigo tratar desse enunciado 
de maneira bivalente (a meta-linguagem que apresenta a linguagem-objeto Fuzzy, 
acredito, ainda é bivalente).
 
  
 
> Jõao Marcos:
        Agora você me confundiu de vez. Se aquilo que Frege fez não é 
considerado mais lógica clássica, então estou completamente perdido no assunto 
(como classificam Frege hoje em dia?). Mas, com certeza, se alguém me apertar, 
vou ser obrigado a dizer que, nessa discussão, estou considerando como Lógica 
Clássica qualquer Sistema Formal -ou considerações lógicas- que exija pelo 
menos 
a Consistência e a Bivalência (sei que isso é vago mas, por hora, creio que é 
suficiente...). Por isso, a meu ver, Frege é clássico (tanto que abandonou o 
logicismo unicamente por causa da contradição). 

 
            De qualquer forma, acredito que a questão pode sim ser colocada em 
Frege e até em Aristóteles. De fato, ambos não tinham uma semântica explícita, 
mas suas teorias, ao menos, utilizavam uma meta-linguagem coerente com a lógica 
que tentaram estipular. E minha questão original é exatamente essa: 
como rivalizar com a consistência sendo que sua meta-linguagem ainda é 
consistente?
 
            Sobre a Fuzzy, mesmo que seja aquela uma definição derivada de um 
tipo de *função* matemática, essa definição não deixa, por causa disso, de 
depender da bivalência (é verdade que tenha aquele valor e falso que seja 
qualquer outro), e se a Fuzzy depende de tal tipo de função, sua polivalência 
dependeria, em última análise, da bivalência, ao menos enquanto meta-linguagem. 
A questão aqui se desdobra em: como rivalizar com a bivalência sendo que sua 
meta-linguagem ainda é bivalente?
 
            A meu ver, não há rivalidade em nenhum dos casos. Não estou 
questionando a utilidade, muito menos o rigor, de tais sistemas, mas apenas a 
tentativa de abandonar por completo a consistência ou a bivalência.
 
            Sobre a maçã, mesmo num sistema analógico, ou vários sensores 
independentes, como eu reconstruiria por computador a imagem da minha maçã - 
num 
determinado instante de tempo - simplesmente aceitando contradições nos 
sensores? Alguma hora eu teria que optar pela informação de um ou de outro, com 
o perigo de deixar aquele pedacinho sem cor (ou apelar para uma mistura das 
informações contraditórias, mas não sei como isso seria uma descrição mais 
eficiente da maçã).
 
Obs: sem falar que conheço uns por aí que já acreditam que estão comendo maçãs 
contraditórias: "ela era vermelha e amarela, ou seja, vermelha e não-vermelha" 
(!)
 
 
> Walter Carnielli
            
Poxa, eu concordo plenamente que não é um demérito utilizar 
uma meta-linguagem clássica. O que não entendo é a maneira que muitas vezes as 
lógicas não-clássicas são apresentadas contra a lógica clássica como 
alternativas ou sistemas distintos e completamente (desculpa a expressão) 
*auto-sustentáveis*, sendo que, repetindo, não sei como 
uma meta-linguagem inconsistente poderia sequer estabelecer uma sintaxe em sua 
linguagem-objeto.
            (Agradeço os textos que me enviou - ainda não li mas já vou ler! - 
no entanto, o link do seu *Paraconsistent Machines and their Relation to 
Quantum 
Computing* me parece estar errado, e como sou programador, só o título já me 
instigou muito...)
 
 
 
Sei que posso estar soando um tanto categórico demais, mas isso é unicamente 
por 
questões de brevidade e não, por assim dizer, de *certezas*. Aproveito para 
agradecer a todos que me responderam pois isso está me ajudando, 
indiscutivelmente, a deixar uma questão tão complexa cada vez mais clara.

Novamente, desculpe qualquer coisa.

Abraços a todos,
Júlio César A. Custódio



      
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