ANSOL Associação Nacional para o Software Livre

-------- Mensagem encaminhada --------
Assunto: [ANSOL-geral] Software Livre nos programas eleitorais 2022
Data:   Wed, 19 Jan 2022 19:23:45 +0000
De:     ansol-impre...@listas.ansol.org
Responder a:    conta...@ansol.org, ansol-impre...@listas.ansol.org
Para:   ansol-impre...@listas.ansol.org <ansol-impre...@listas.ansol.org>

Versão online: 
https://ansol.org/noticias/2022-01-19-software-livre-nos-programas-eleitorais-2022/

Apenas a alguns dias das *eleições legislativas portuguesas de 2022*, é 
importante perceber quais as posições dos partidos que contestarão os lugares 
na Assembleia da República no que toca a Software Livre e Direitos Digitais. 
Analisámos os programas disponíveis e apresentamos aqui um resumo dos pontos 
mais relevantes.

Algumas siglas utilizadas no artigo:

   * CNPD: Comissão Nacional de Proteção de Dados
   * RNID: Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital
   * CNCS: Centro Nacional de Cibersegurança
   * RGPD: Regulamento Geral de Proteção de Dados
   * DRM: Digital Rights Management / Gestão de Direitos Digitais, ou, mais 
corretamente, Digital Restrictions Management / Gestão Digital de Restrições
   * TJUE: Tribunal de Justiça da União Europeia

Defendemos que todo o código financiado por dinheiro público deve ser Software Livre 
(recomendamos que visitem a página Public Money? Public Code! 
<https://publiccode.eu/pt/>). Defendemos o direito à privacidade nas comunicações dos 
cidadãos e somos contra o experimentalismo não fundamentado de voto eletrónico ou online. 
Para conhecer melhor os ideais defendidos pela ANSOL, sugerimos que leiam o nosso artigo 
“10 ideias para a próxima Legislatura” 
<https://ansol.org/noticias/2022-01-03-dez-ideias-para-a-proxima-legislatura/>.


     Partido Socialista

*Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.* Propõem reforçar o 
serviço Dados.Gov com mais oferta de dados, incluindo dados em tempo real. 
Propõem generalizar a experiência de voto eletrónico presencial feita em Évora, 
sem referência a Software Livre ou às críticas da CNPD. Propõem definir um 
programa nacional de ensino da computação desde o ensino básico, referindo a 
literacia e ética digitais mas sem referência a Software Livre. Propõem a 
digitalização dos manuais escolares sem referência a licenças abertas.

*Comentário da ANSOL:* A generalização da experiência feita em Évora é preocupante, 
especialmente dadas as críticas feitas pela CNPD 
<https://www.cnpd.pt/comunicacao-publica/noticias/voto-eletronico-cnpd-defende-rigoroso-escrutinio/>.
 A criação de um programa de ensino da computação pode prender várias gerações às 
empresas responsáveis pelo software proprietário utilizado, sendo crucial a inclusão 
de Software Livre nesta iniciativa. Além da utilização de Software Livre neste 
programa, é importante que seja ensinado o papel dos direitos de autor na criação de 
software e as diferenças entre software proprietário e software livre.


     Partido Social Democrata

*Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.* Propõem lançar uma 
iniciativa nacional de dados abertos capaz de incluir a construção de modelos 
de negócio para o sector privado.

*Comentário da ANSOL:* O programa não toca em direitos digitais para além da 
cobertura nacional do acesso a comunicações. Não é claro qual a diferença entre 
o programa “Portugal.Dados” que propõem criar e a plataforma existente de dados 
abertos do governo (Dados.Gov).


     Bloco de Esquerda

*Resumo do programa: “O software criado ou comprado com dinheiro dos 
contribuintes deve ser software livre ou de código aberto, permitindo a 
reutilização pelas várias entidades da Administração Pública”*. Defendem a 
neutralidade da internet. Propõem o fim do DRM e o fim da criminalização da 
partilha de conteúdos para fins não comerciais. Defendem que a produção 
científica com dinheiros públicos deve ser obrigatoriamente depositada em 
repositórios abertos. Defendem o teste de voto eletrónico à distância com “a 
participação de especialistas de segurança das Universidades portuguesas, 
utilização de código aberto e amplo escrutínio público”. Propõem o fim da taxa 
de cópia privada.

*Comentário da ANSOL:* Os requisitos para o teste ao voto eletrónico à distância são 
correctos, mas o projecto deveria começar por um estudo sobre o desenho e 
implementação do processo. Ao começar pelo teste, condiciona-se a desvalorização das 
críticas que poderiam por em causa a sua exequibililidade, como aconteceu no 
projeto-piloto de Évora, fortemente criticado pela CNPD 
<https://www.cnpd.pt/comunicacao-publica/noticias/voto-eletronico-cnpd-defende-rigoroso-escrutinio/>.


     CDU (PCP-PEV)

*Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.* São contra a censura e 
a hipervigilância no contexto de direitos digitais, defendem a neutralidade da 
internet e a não criminalização da partilha de conteúdos para fins não 
comerciais.

*Comentário da ANSOL:* Nada a apontar.


     PAN

*Resumo do programa: “garantir que o software desenvolvido pelo Estado, ou cujo 
desenvolvimento é financiado por recursos públicos, tem o seu código público, 
ou seja, é software livre, excepcionando situações devidamente justificadas”*. 
Propõem avaliar a migração de todo o software de agências governamentais e 
entidades públicas para software livre. Propõem reforçar os meios da CNPD e 
CNCS. Propõem garantir a neutralidade da Internet, proibindo as ofertas de 
zero-rating. Propõem reforçar o investimento do Estado em infraestrutura 
própria.

*Comentário da ANSOL:* Gostávamos de ver o primeiro ponto sem as exceções 
“devidamente justificadas”, mas pode ser um bom primeiro passo.


     Iniciativa Liberal

*Resumo do programa: “Reduzir o custo total de propriedade recorrendo ao uso de 
especificações abertas, como o software Open Source”*. Propõem publicar todos 
os dados de compras públicas de bens e serviços num formato standard único e 
aberto. Propõem a criação de um datacenter operado pelo Estado para albergar a 
sua infraestrutura. Propõem implementar uma estratégia de gestão de risco e 
cibersegurança em todas as iniciativas TIC para assegurar a segurança e 
privacidade digital. Propõem a neutralização do impacto da taxa de cópia 
privada, reduzindo a taxa em 50% e estreitando a base de incidência ao reduzir 
a lista de tipos de equipamentos sujeitos, mas também propõem eliminar todas as 
isenções existentes.

*Comentário da ANSOL:* A recomendação de utilização de Open Source é positiva, mas parece 
haver alguma confusão técnica ao subentender que Open Source é um tipo de especificação 
aberta. Em relação à taxa de cópia privada, a redução da taxa e da base de tributação vão 
no sentido positivo, mas a eliminação das isenções tem impacto negativo. A eliminação das 
isenções remove os poucos mecanismos que as empresas têm para evitar a taxa, apesar de 
haver decisões pelo TJUE que indicam que a taxa não deve ser aplicada a empresas 
<https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/HTML/?uri=CELEX:62014CJ0470&from=en>.


     Livre

*Resumo do programa: “Construir Bens Digitais Comuns, garantindo que todo o 
código desenvolvido com dinheiro público fique numa licença de código aberto”*. 
Propõem limitar a utilização de software proprietário na educação apenas a 
casos onde Software Livre não seja adequado. Propõem introduzir Software Livre 
em todos os níveis da administração pública e instituições financiadas com 
recursos públicos. Propõem a criação de livros escolares com licença de autor 
aberta (Creative Commons). Defendem o direito à fabricação e reparação. Propõem 
reforçar o papel da CNPD e promover a encriptação de todas as comunicações. 
Propõem estender o RNID para que sítios oficiais não dependam de serviços 
terceiros, aceitação de termos estranhos à finalidade do serviço, e não tenham 
rastreamento durante a interação com o serviço. Propõem participar na 
construção do Contract for the Web. Propõem melhorar as condições da votação 
por correspondência e investir no desenvolvimento e experimentação de
sistemas de voto eletrónico à distância.

*Comentário da ANSOL:* Nada a apontar.


     Partido da Terra (MPT)

*Resumo do programa: Sem referências a Software Livre.* Propõem promover e 
implementar o voto eletrónico à distância como alternativa ao voto presencial 
para todos os nacionais, em todos os atos eleitorais, sem referência a Software 
Livre.

*Comentário da ANSOL:* Promover a implementação do voto eletrónico à distância sem 
mencionar a necessidade de estudos preliminares é cair nos mesmos erros que 
aconteceram no projeto-piloto em Évora, onde, segundo a CNPD, ficaram “[feridos] os 
mais básicos princípios do Estado de Direito Democrático, com menosprezo pelos 
princípios da previsibilidade e da transparência do processo eleitoral” 
<https://www.cnpd.pt/comunicacao-publica/noticias/voto-eletronico-cnpd-defende-rigoroso-escrutinio/>.


     Volt Portugal

*Resumo do programa: “Projetos financiados com dinheiro público deverão ter o 
código desenvolvido num local de acesso público, excepto em situações onde o 
segredo de justiça/defesa nacional seja aplicável”*. Propõem, nos serviços 
públicos, substituir faseadamente o software utilizado por Software Livre, 
padronizar as ferramentas de produtividade e garantir ações de formação. 
Propõem, na educação, substituir e promover Software Livre, incluindo uma 
solução para videoconferências cifradas e seguras. Propõem tornar a CNPD numa 
secretaria de estado com poderes de informação e fiscalização em matérias de 
dados pessoais e direitos online, com pareceres vinculativos e sanções nos 
incumprimentos das suas normas. Propõem a adoção do voto eletrónico à 
distância, depois de testes com a participação de especialistas de segurança 
das Universidades com o objetivo de ter um sistema seguro, anónimo, 
verificável, fiável, e acessível, mas sem referência a Software Livre.

*Comentário da ANSOL:* Apesar de mencionarem que o código financiado com 
dinheiro público deve ser disponibilizado ao público, não dizem explicitamente 
que o código deve ser licenciado como Software Livre.


     Restantes partidos

Os restantes partidos ou não tinham disponível o programa eleitoral para 2022, 
ou não faziam qualquer referência a Software Livre ou direitos digitais.



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