Pessoal
O problama da matemática e de seu ensino passa pelos seus *métodos*,
que devem ser considerados.
Eu lembro de um frase do Charlie Brown para a Peppermint, no Peanuts,
que obviamente ia mal na escola (anos 50, 60):
"How can you do new maths with an old mathematical mind?"
Isso indica outra coisa do que a evidente dificuldade com a mudança de
estratégia que houve da "velha" para a "nova" matemática (não estou
defendendo nem uma, nem outra): é preciso preparar as mentes primeiro,
entrar em transe. Como alguém já disse, hoje há shoppings, vídeos,
etc., que são muito mais atraentes do que matemática. O que deveria
haver são palestras motivadoras, e há muita gente competente para
motivar gente nova, não tipo professores de cursinho, mas tipo os
livros de divulgação do Ian Stewart.
A matemática é difícil, como qualquer coisa que se faça a sério. Ou
acham fácil tocar violino ou piano? Ou correr 100m em olimpíadas? Ou
jogar no Corinthians? Ou ser um bom cozinheiro? Ou um bom policial? Ou
organizar uma casa (família)? Mais facil ser relaxado, fazer as
coisas mais ou menos, ensinar (mal) matemática, ou algo que se
assemelhe ao tema, principalmente em nossas escolas (todas) onde não
há supervisão decente e não pode haver por questões ideológicas. O
argumento do Carlos de que dizer que a matemática é difícil atrapalha
seu estudo didático begs the question. Se é difícil, é difícil, ponto.
O problema é que a sociedade aceita que as pessoas podem não passar
(reprovar) na *prova* de seleção ao juniors do Flamengo (houve 1500
candidatas--mulheres--para jogar no time de futebol feminino do Santos
dias atrás), ou para entrar no Big Brother, mas não podem reprovar na
escola. Questão de valores...
Em todo caso, em assunto correlato, creio que muito da crítica aos
"médodos modernos" em nosso meio (que apareceram aqui no inicio dos
anos 60) foram influenciados pelo livro do André Revuz que fez sucesso
nos anos 60, e que achava um absurdo (e é mesmo) "lecionar Bourbaki em
fatias para os alunos" (ou algo assim). Eu não acho uma boa ensinar
teoria de conjuntos para crianças, conjunto vazio, propriedades
associativas, etc. Acho que elas devem aprender aritmérica de ir ao
mercado, e somente mais tarde, aos poucos, as coisas mais delicadas,
quando se dirigirem aos assuntos em tela. De tudo o que li a respeito,
quando estudei isso, achei que a dificudade com o ensino da matemática
se devia não à matemática pp. dita, mas à falta de preparo dos
professores para ensinar algo que eles mesmos não entendiam. Mas isso
é óbvio.
Quanto a Piaget, eu duvido, mas duvido mesmo, que qualquer pedagogo
tenha lido a Epistemologia Genética inteira, ou, se *leram*, a tenham
entendido (como já disse ao Ricardo uma vez): as partes sobre as
epistemologias da lógica, da matemática e da física são confusas,
podendo ser lidas (se podem) somente por quem conhece muito bem o
assunto, e essas pessoas certamente não precisarão aprender sobre o
tema em Piaget. Interessantes (para mim) são as suas observações sobre
a construção do real, etc.
Para quem gosta do tema, sugiro o livro do Laurent Shwartz (sim, ele
mesmo), "Para salvar a universidade", escrito quando da mudança do
sistema de ensino francês. Perguntei a vários pedagogos e
assemelhados, e ninguém conhece. Esse sim é um cara a ser lido e
refletido.
Boa sorte a todos nós, mas o futuro é mesmo negro. Vai chegar uma hora
em que queimaremos os livros de filosofia, de artes, de boa
literatura, porque não haverá quem os leia.
Abraços,
Décio
Ah, lembrei das posições do Arnol'd contra o método axiomático e o
ensino bourbakista. Quem quiser me peça que eu dou as referências.
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Decio Krause
Departamento de Filosofia
Universidade Federal de Santa Catarina
88040-990 Florianópolis, SC -- Brasil
deciokra...@gmail.com
www.cfh.ufsc.br/~dkrause
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"Ignorance is like a shadow. It has no real substance of its own, it
is simply a lack of light. You cannot cause a shadow to disappear by
trying to fight it, by stamping on it, by rallying against it, or by
using any form of emotional or physical resistance. In order to cause
a shadow to disappear you must shine light on it.' (From the Archive
of Non Locality)
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